terça-feira, 16 de outubro de 2012

SELVAGERIA HUMANA


SELVAGERIA HUMANA
 
            Na antiguidade romana disse o poeta Ovídio (43-16): “o lobo, o urso, os animais menos nobres encarniçam-se contra os agonizantes”. Alexandre, tirano da cidade de Feres, não podia assistir no teatro, a representação de tragédias, do medo que seus súditos o vissem chorar com as desgraças de Hécuba ou Andrômaca. Ele que impiedosamente mandava todos os dias torturar tanta gente com requintes de crueldade. Certa feita disse o poeta Cláudio: “só se compraz em imolar um touro quando este se ofende”. Ninguém ignora que há mais bravura em vencer o inimigo do que o exterminar, mais em forçar a ceder do que em matá-lo. Matar um homem é pô-lo a salvo de nossas ofensas. Daí a observação de Bias de Priene a um indivíduo mau: “sei que mais cedo ou mais tarde pagarás, mas receio não o ver”.
            No reino de Narsinga, os homens de guerra e os artesãos resolviam suas divergências a golpes de espada. O rei não recusava a ninguém o direito de se bater e assistia aos duelos um a um. O duque de Orléans desafiou o rei da Inglaterra propondo-lhe que lutassem cem contra cem, como fizeram os argianos em número de trezentos contra trezentos lacedemônios, ou ainda como os três Horácios contra os três Curiáceos. Conta o historiador romano Tito Lívio, que na Espanha em um duelo entre dois príncipes, o mais velho, com sua habilidade e técnica, venceu facilmente o mais jovem muito mais vigoroso, por essas escreveu o poeta Virgílio: “míseras primícias de uma coragem juvenil, funesto aprendizado de uma guerra iminente”. O cônsul Públio Rútilo, foi o primeiro a ensinar um soldado a manejar suas armas com habilidade e ciência; Filopêmen proibiu o pugilismo, exercício em que era excelente e Júlio César recomendava a seus soldados que ferissem principalmente no rosto os soldados de Pompeu.
            As primeiras crueldades cometem-se espontaneamente,delas nascem o temor de uma justa vingança. Filipe, rei da Macedônia, que tantas dificuldades tivera com Roma, sentindo-se inquieto com as numerosas mortes que ordenara e não podendo dominar o medo que lhe inspiravam todas as famílias por ele ofendidas em diversas épocas, resolveu apoderar-se dos filhos de todos os que mandara matar afim de assegurar a sua própria tranqüilidade, desfazendo-se deles uns após outros. O historiador Calcôndilo, que deixou memórias dignas acerca de seu tempo, conta que o imperador Maomé aplicava o suplício de cortar os homens em dois com um só golpe de cimitarra dado no meio do corpo, acima das ancas, o que fazia com que morressem de duas mortes concomitantes. Viam-se os dois pedaços ainda com vida agitarem-se por algum tempo sob a ação da dor; O imperador Creso, mandou prender um fidalgo de seu irmão Pantaleão, e o conduziu a uma oficina de pisoeiro onde foi raspado e teve suas carnes dilaceradas até finalmente morrer; Jorge Sechel, chefe dos camponeses da Polônia, ficou três dias nu, amarrado a um cavalete, exposto aos passantes, deram de beber seu sangue a seu próprio irmão, em seguida ofereceram sua carne aos chefes, os quais lhe arrancaram a dentadas. Finalmente após tantos suplícios foi morto, cozinharam suas entranhas e as comeram.
            Conta Voltaire que o cavaleiro de La Barre, teve a mão e a língua decepadas e depois foi queimado vivo pelos juízes de Abbeville, por não tirar o chapéu na procissão dos capuchos; Montesquieu conta que os persas arrancavam os olhos dos que fossem desobedientes; os babilônios arrancavam o coração de seus inimigos ainda vivos, cortavam os lábios, nariz, os pés, estripavam e picavam os corpos vivos ou mortos. Homero na “Illíada” escreveu: “há duelos sangrentos em que dentes voam, olhos vazam e cérebros escorrem de crânios”; Phalaris, tirano de Ácragas no século VI a.C, assava vivo os seus desafetos; Charondas fazia seus inimigos capturados andarem por três dias vestidos de mulher pelas ruas da cidade; conta o historiador Suetônio: “o imperador Tibério depois de fazer o condenado tomar litros de vinho, amarrava o pênis do condenado com um garrote, assim ele não urinava e morria após o rompimento da bexiga”. Os Sobas africanos rodeavam suas casas com crânios humanos espetados nas pontas de suas cercas; o bandido Virgulino Ferreira da Silva “o Lampião”, teve sua cabeça decepada e exposta, assim como as dos seus companheiros em Alagoas. Na campanha pela conquista da China os exércitos de Mao Tsé-Tung expunham as cabeças dos generais vencidos; os Califas de Sevilha como Almotámide e El Madi plantavam flores nos crânios dos inimigos suplicados; os soberanos de Daomé colecionavam as cabeças dos adversários mortos em batalhas e fizeram isso até 1894. L. Annaeus Florus (história romana, III, IV), conta que os tráceos no tempo da república bebiam pelos crânios dos adversários aniquilados “bibere in ossibus capitum”; Albuíno, rei dos lombardos, bebia pelo crânio de Cunimondo, rei dos gépidas no ano de 556 d.C; o mesmo fez Crum rei búlgaro em 810 d.C. E sabe-se pelas palavras do historiador Amiano Marcelino,  que os bárbaros comiam as entranhas de seus inimigos “ainda quentes” e bebiam o seu sangue assim que jorrava de seus corpos nos campos de batalha.

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