A idade
próspera dos monstros marinhos foi a antiguidade; naquela época haviam monstros
a espreita em cada recife, caverna ou banco de areia. Tritões surgiam por detrás das ondas e
serpentes gigantes habitavam em várias ilhas. Os piores monstros daquela época
foram scilla e caribdis. Em uma espécie de mitologia, segundo a feiticeira
Circe, personagem do livro "odisséia" de Homero, scilla tinha doze
terríveis garras, seis enormes dentes trazedores da morte. Caribdis por sua
vez, três vezes ao dia engolia o mar e outras tantas vezes o regurgitava,
criando com isso tamanhos fluxos e refluxos que o infeliz que escapasse de sua
dentada era despejado na boca de scilla.
Os
naturalistas antigos como Plínio o velho, e Diodoro da Sicília, descreveram e
classificaram várias dessas espécies. Plínio o velho, em sua "história
naturallis" escreveu: "há uma península no mar vermelho de Cadara, seu
fundo tem um abismo que levou a frota do rei Ptolomeu a remar por doze dias e
doze noites inteiras, pois não havia um só sopro de vento. Nesses pontos os
monstros marinhos são os mais grandes, tão grandes que alguns nem se movem. O
rio Ara também abriga à incríveis monstros marinhos que sobem à terra para se
alimentarem e depois retornam ao mar". Plínio o velho, ainda informa que a
delegação de olísipo informou a Tibério que um tritão de "formas
enormes" fora visto e ouvido em uma caverna soprando uma concha de
tartaruga. O historiador Turranius fala de um monstro marinho em cima da terra
de Gades, a distância entre suas nadadeiras era de dezesseis côvados. M.
Scaurus afirmou Ter visto ossos trazidos de Jope medindo quarenta pés de
comprimento, e Diodoro da Sicília afirmava que os mares antigos eram habitados
por serpentes gigantes que naufragavam navios com ataques furiosos.
Os
navegantes medievais e renascentistas contavam sobre a existência de um
terrível monstro chamado kraken. Kraken era descrito como sendo um polvo
gigante, do tamanho de uma ilha, era antropófago e naufragador de navios. Isso
é o que nos assegura Olaus Magnus, bispo de Upsala em sua obra "história
de gentibus septentrionalis" publicada em 1555. Seus desenhos foram mais
tarde reproduzidos por Gesner na Suíça alcançando grande popularidade.
São Brendam
foi um verdadeiro especialista em monstros marinhos. Conta ele que em suas viagens da costa inglesa às ilhas
Canárias, foi atacado por baleias, grifos e ciclopes, tudo isso no século 4
d.C.; no gênero dos monstros semi-humanos o melhor exemplo foi o monstro bispo,
este teria surgido a passeio numa praia do mar Báltico por volta do ano de
1433, foi assim descrito pelo bispo de Sponda: "monstro bispo era um ser,
um homem marinho, com aparência de bispo, tendo a mitra na cabeça, uma cruz na
mão direita, como um bispo pronto para celebrar uma missa. Passou ele várias
horas com a multidão e antes de entrar nas águas ainda deu a sua benção".
Na idade
média os europeus tinham medo das águas e mais ainda do mar. O homem podia
dominar os lagos e os rios atravessando-os, mas quando as águas se perdiam de
vista como acontecia com os oceanos, então o mar se tornava o reino de todos os
monstros. Os historiadores latinos como Cúrcio, falavam da fecundidade do mar
pelo fato de acreditarem que as sementes masculinas desciam de uma espécie de
éter com a chuva e ao caírem no mar, provocavam a multiplicidade dos peixes e
outros animais que no mar habitavam, mas também o aparecimento de seres
gigantes e espécies monstruosas. Acreditavam os medievais que o lugar onde o
sol se põe era o reino da morte, por oposição ao lugar onde ele nasce, ou seja,
o lugar onde tudo começa, assim o ocidente é o lugar das trevas, do que é
desconhecido, o lugar onde o mundo se acaba, por isso o medo de navegar para o
sul ao longo da costa. Contornar a África era uma terrível aventura porque
acreditavam que lá o calor era tão grande que o mar fervia como uma panela
colocada ao lume.
Em meio ao
mar de Java, nascia a imensa árvore pausengi, em sua direção iam todas as correntezas,
arrastando consigo a todos os barcos; sobre ela fazia seu ninho o terrível
pássaro de nome geruda, que com suas garras carregava elefantes e rinocerontes
aos seus filhotes. Os holandeses souberam da existência da árvore Pausengi
pelos javaneses ao longo do século 18, mas ela já aparece nas aventuras do
marinheiro árabe Sinbad. O bem precioso dessa árvore eram seus côcos. Rodolfo
II de Habsburgo, imperador do sacro império germânico chegou a oferecer uma
quantia de 4.000 florins pelo único côco que havia na Europa dado por ela, sua
polpa diziam, curava a paralisia, síncopis, bexiga e destruía qualquer veneno
ingerido. Árvores que produziam patos e gansos foram citadas em 1154 por
Giraldus Cambrensis e ainda faladas no século 18; os patos supostamente
emergiam dos frutos e saíam nadando pela água, padres irlandeses comiam esses
patos nos dias santos.
Na época das
grandes descobertas, as sereias da antigüidade ressurgem. Por volta do ano de
1560, o jesuíta Henri Henriquez, deu de cara na ilha Manor com sete tritões e
nove sereias; Colombo também as viu em Hispaniola; outro jesuíta em sua
"histórias" escreveu que os marinheiros da Galícia descendiam de um
tritão que teve relação com uma moça das redondezas. No ano de 1548 o
arquiduque da Áustria Philippe, exibiu em Genébra uma mulher com as formas de
uma sereia, dizia-se que ela vivera longos anos num convento, não falava, mas
tecia. O naturalista francês Ganeau pela mesma época escreveu: "entre os
moluscos há um peixe com rosto e seios de mulher, do tamanho de um novilho,
cuja carne tem gosto de vaca, dizem que seus dentes são um bom remédio para
desinteria".
Em 1861, o
vapor Alecton sangrava entre Tenerife e Ilha da Madeira, quando se deparou com
uma enorme Lula boiando na superfície da água, o animal tinha 8 metros de
comprimento, foi então laçado, os marinheiros ficaram com um pedaço da cauda e
nadadeira na mão, enquanto o resto do animal fugia. Em 1873, na terra nova,
dois pescadores arpoaram uma lula gigante por engano, e viram-se envolvidos
numa briga com o monstro que só desistiu quando perdeu os dois braços cortados
à machado. Em 1570, um mapa da Islândia mostrava monstros que habitavam as
águas vizinhas. Em 1802, Denis de Montfort representou numa tela, um ataque de
um cefalópode abraçando o estreito de Gibraltar, o escritor Winchell chamou o
desenho de "fantasia de marinheiro", mas reconheceu que no fundo do
mar existem formas de Octópus que de longe ultrapassam a magnitude de qualquer
espécie conhecida pela ciência. Em 1543 o pintor Jeny Hanniver representou um
monstro marinho com asas e cabeça humana, que fôra mutilado por um raio. No
século 16, os naturalistas Rondelet e Belon descreveram animais que chamaram de
"monges do mar". Japetus Steenstrup comparou as ilustrações de
prováveis monstros do mar com um tipo de lula gigante que fôra capturada em
1583. Por anos dentes de tubarão fossilizados eram identificados como línguas
de serpentes transformadas em pedra por São Paulo, em 1667 Niels Stensen
identificou o fato e os chamou de grossopetrae.
O livro de Jó, um dos livros mais antigos da
humanidade segundo Rousseau, contido nas santas escrituras, alude sobre um ser
estranho, habitante das profundezas do mar, diz assim o capítulo XL:
"porventura poderás tirar com anzol o Leviatã, e ligar a sua língua com
uma corda? Eis que quem quiser capturar tal monstro se enganará nas suas
esperanças e será precipitado nas águas à vista de todos". E no capítulo
XLI lê-se: "o seu corpo é como escudo de bronze fundido, apinhoado de
escamas que se apertam. Uma está unida a outra, nem o vento passa por entre
elas, no seu pescoço está a força, os membros de seu corpo estão bem unidos,
cairão raios sobre ele e nem o moverão para outro lugar, quando se elevar sobre
as águas, temerão os anjos. O ferro é para ele como palha e o bronze como pau
podre. Os raios do sol estarão debaixo dele, ele andará por cima do ouro como
por cima do lodo. Fará ferver o fundo do mar como uma panela e o tornará como
um vaso de perfumes em ebulição".
Nenhum comentário:
Postar um comentário