terça-feira, 16 de outubro de 2012

MONSTROS MARINHOS


MONSTROS MARINHOS





 
A idade próspera dos monstros marinhos foi a antiguidade; naquela época haviam monstros a espreita em cada recife, caverna ou banco de areia. Tritões surgiam por detrás das ondas e serpentes gigantes habitavam em várias ilhas. Os piores monstros daquela época foram scilla e caribdis. Em uma espécie de mitologia, segundo a feiticeira Circe, personagem do livro "odisséia" de Homero, scilla tinha doze terríveis garras, seis enormes dentes trazedores da morte. Caribdis por sua vez, três vezes ao dia engolia o mar e outras tantas vezes o regurgitava, criando com isso tamanhos fluxos e refluxos que o infeliz que escapasse de sua dentada era despejado na boca de scilla.
 
Os naturalistas antigos como Plínio o velho, e Diodoro da Sicília, descreveram e classificaram várias dessas espécies. Plínio o velho, em sua "história naturallis" escreveu: "há uma península no mar vermelho de Cadara, seu fundo tem um abismo que levou a frota do rei Ptolomeu a remar por doze dias e doze noites inteiras, pois não havia um só sopro de vento. Nesses pontos os monstros marinhos são os mais grandes, tão grandes que alguns nem se movem. O rio Ara também abriga à incríveis monstros marinhos que sobem à terra para se alimentarem e depois retornam ao mar". Plínio o velho, ainda informa que a delegação de olísipo informou a Tibério que um tritão de "formas enormes" fora visto e ouvido em uma caverna soprando uma concha de tartaruga. O historiador Turranius fala de um monstro marinho em cima da terra de Gades, a distância entre suas nadadeiras era de dezesseis côvados. M. Scaurus afirmou Ter visto ossos trazidos de Jope medindo quarenta pés de comprimento, e Diodoro da Sicília afirmava que os mares antigos eram habitados por serpentes gigantes que naufragavam navios com ataques furiosos.
 
Os navegantes medievais e renascentistas contavam sobre a existência de um terrível monstro chamado kraken. Kraken era descrito como sendo um polvo gigante, do tamanho de uma ilha, era antropófago e naufragador de navios. Isso é o que nos assegura Olaus Magnus, bispo de Upsala em sua obra "história de gentibus septentrionalis" publicada em 1555. Seus desenhos foram mais tarde reproduzidos por Gesner na Suíça alcançando grande popularidade.
 
São Brendam foi um verdadeiro especialista em monstros marinhos. Conta ele que em suas viagens da costa inglesa às ilhas Canárias, foi atacado por baleias, grifos e ciclopes, tudo isso no século 4 d.C.; no gênero dos monstros semi-humanos o melhor exemplo foi o monstro bispo, este teria surgido a passeio numa praia do mar Báltico por volta do ano de 1433, foi assim descrito pelo bispo de Sponda: "monstro bispo era um ser, um homem marinho, com aparência de bispo, tendo a mitra na cabeça, uma cruz na mão direita, como um bispo pronto para celebrar uma missa. Passou ele várias horas com a multidão e antes de entrar nas águas ainda deu a sua benção".
 
Na idade média os europeus tinham medo das águas e mais ainda do mar. O homem podia dominar os lagos e os rios atravessando-os, mas quando as águas se perdiam de vista como acontecia com os oceanos, então o mar se tornava o reino de todos os monstros. Os historiadores latinos como Cúrcio, falavam da fecundidade do mar pelo fato de acreditarem que as sementes masculinas desciam de uma espécie de éter com a chuva e ao caírem no mar, provocavam a multiplicidade dos peixes e outros animais que no mar habitavam, mas também o aparecimento de seres gigantes e espécies monstruosas. Acreditavam os medievais que o lugar onde o sol se põe era o reino da morte, por oposição ao lugar onde ele nasce, ou seja, o lugar onde tudo começa, assim o ocidente é o lugar das trevas, do que é desconhecido, o lugar onde o mundo se acaba, por isso o medo de navegar para o sul ao longo da costa. Contornar a África era uma terrível aventura porque acreditavam que lá o calor era tão grande que o mar fervia como uma panela colocada ao lume.
 
Em meio ao mar de Java, nascia a imensa árvore pausengi, em sua direção iam todas as correntezas, arrastando consigo a todos os barcos; sobre ela fazia seu ninho o terrível pássaro de nome geruda, que com suas garras carregava elefantes e rinocerontes aos seus filhotes. Os holandeses souberam da existência da árvore Pausengi pelos javaneses ao longo do século 18, mas ela já aparece nas aventuras do marinheiro árabe Sinbad. O bem precioso dessa árvore eram seus côcos. Rodolfo II de Habsburgo, imperador do sacro império germânico chegou a oferecer uma quantia de 4.000 florins pelo único côco que havia na Europa dado por ela, sua polpa diziam, curava a paralisia, síncopis, bexiga e destruía qualquer veneno ingerido. Árvores que produziam patos e gansos foram citadas em 1154 por Giraldus Cambrensis e ainda faladas no século 18; os patos supostamente emergiam dos frutos e saíam nadando pela água, padres irlandeses comiam esses patos nos dias santos.
 
Na época das grandes descobertas, as sereias da antigüidade ressurgem. Por volta do ano de 1560, o jesuíta Henri Henriquez, deu de cara na ilha Manor com sete tritões e nove sereias; Colombo também as viu em Hispaniola; outro jesuíta em sua "histórias" escreveu que os marinheiros da Galícia descendiam de um tritão que teve relação com uma moça das redondezas. No ano de 1548 o arquiduque da Áustria Philippe, exibiu em Genébra uma mulher com as formas de uma sereia, dizia-se que ela vivera longos anos num convento, não falava, mas tecia. O naturalista francês Ganeau pela mesma época escreveu: "entre os moluscos há um peixe com rosto e seios de mulher, do tamanho de um novilho, cuja carne tem gosto de vaca, dizem que seus dentes são um bom remédio para desinteria".
 
Em 1861, o vapor Alecton sangrava entre Tenerife e Ilha da Madeira, quando se deparou com uma enorme Lula boiando na superfície da água, o animal tinha 8 metros de comprimento, foi então laçado, os marinheiros ficaram com um pedaço da cauda e nadadeira na mão, enquanto o resto do animal fugia. Em 1873, na terra nova, dois pescadores arpoaram uma lula gigante por engano, e viram-se envolvidos numa briga com o monstro que só desistiu quando perdeu os dois braços cortados à machado. Em 1570, um mapa da Islândia mostrava monstros que habitavam as águas vizinhas. Em 1802, Denis de Montfort representou numa tela, um ataque de um cefalópode abraçando o estreito de Gibraltar, o escritor Winchell chamou o desenho de "fantasia de marinheiro", mas reconheceu que no fundo do mar existem formas de Octópus que de longe ultrapassam a magnitude de qualquer espécie conhecida pela ciência. Em 1543 o pintor Jeny Hanniver representou um monstro marinho com asas e cabeça humana, que fôra mutilado por um raio. No século 16, os naturalistas Rondelet e Belon descreveram animais que chamaram de "monges do mar". Japetus Steenstrup comparou as ilustrações de prováveis monstros do mar com um tipo de lula gigante que fôra capturada em 1583. Por anos dentes de tubarão fossilizados eram identificados como línguas de serpentes transformadas em pedra por São Paulo, em 1667 Niels Stensen identificou o fato e os chamou de grossopetrae.
 
O livro de Jó, um dos livros mais antigos da humanidade segundo Rousseau, contido nas santas escrituras, alude sobre um ser estranho, habitante das profundezas do mar, diz assim o capítulo XL: "porventura poderás tirar com anzol o Leviatã, e ligar a sua língua com uma corda? Eis que quem quiser capturar tal monstro se enganará nas suas esperanças e será precipitado nas águas à vista de todos". E no capítulo XLI lê-se: "o seu corpo é como escudo de bronze fundido, apinhoado de escamas que se apertam. Uma está unida a outra, nem o vento passa por entre elas, no seu pescoço está a força, os membros de seu corpo estão bem unidos, cairão raios sobre ele e nem o moverão para outro lugar, quando se elevar sobre as águas, temerão os anjos. O ferro é para ele como palha e o bronze como pau podre. Os raios do sol estarão debaixo dele, ele andará por cima do ouro como por cima do lodo. Fará ferver o fundo do mar como uma panela e o tornará como um vaso de perfumes em ebulição".

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