terça-feira, 16 de outubro de 2012

A HISTÓRIA, O HOMEM E O PENSAR


A HISTÓRIA, O HOMEM E O PENSAR









 
                “O que o homem pensa e sonha, exerce sobre ele indiscutível poder, o que, uma vez, cai na alma, age vivamente, erguendo, impelindo, abatendo e aniquilando”. (Freytag).
 
            “Pensar é mais interessante do que saber, mas não é mais interessante do que contemplar”. (W. Goethe). 
 
A história dos povos helênicos (jônicos, eólios e aqueus), no período anterior à chamada civilização micênica, a das origens góticas, largamente estudadas na obra de Olavo Magno, a dos primórdios dos egípcios e caldeus e de um modo especial às narrativas dos gênesis, mostram-nos uma sucessão de guerras ou de alianças, em que as nações, muitas vezes mal esboçadas, entrelaçam-se, destroem-se ou confundem-se; desse entrelaçamento, destruição ou fusão, nascem os impérios.
 
Observa-se que na evolução histórica, o homem vai do indivíduo à família, da família à tribo, da tribo à nação, da nação ao império. As guerras de independência nos remotos tempos dos assírios e babilônios, dos persas, das batalhas em Peloponeso, da expulsão dos hicsos no Egito ou posteriormente às insurreições dos gauleses de Vercingetorix ou dos lusitanos de Viriato, são movimentos nacionais mais tarde ultrapassados pela consolidação do império romano. Do fundo daquelas florestas que estão além do Reno, naquelas paragens frígidas jamais ultrapassadas pelas legiões de Júlio César, de Augusto, de Germânico, de Tibério ou de Cláudio, surgem homens cingindo peles de Leopardos e trazendo sobre as cabeças, longos cabelos e longas barbas, os capacetes bicórneos que reluziam ao sol quando a primavera dissolvia os gelos dos montes e a neve dos pinheiros. Esses bárbaros, cuja permanência ao longo do Danúbio e do Vístola, impediu durante séculos que se rompesse o dique das estepes por onde se dispersaria as hordas asiáticas.
 
Esse período se alastrou por mais de mil anos, até quando, no fastígio da idade média, realiza-se o encontro de filosofia e teologia, da Grécia e de Israel, e do “organum” Aristotélico. Dessa conciliação da técnica do raciocínio helênico e da logicidade da fé cristã em que resplandecem as figuras de R. Lulio, S. Boa Ventura, Tomás de Aquino e Duns Scott, já aparecem os primeiros sinais do critério científico. O cientificismo de Alberto Magno vai encontrar em Bacon o precursor do experimentalismo e em Guilherme de Occan o teorizador do nominalismo, a preparar, quatro séculos antes, os caminhos ao criticismo Kantiano. É, entretanto nos fins do século XVI, que Bacon estabelece os fundamentos definitivos do método experimentalista, contrapondo ao organum Aristotélico o seu “novum organum”.
 
Do binômio Filosofia-religião que exprime toda a cultura medieval, passa-se no período renascentista ao trinômio religião-filosofia-ciência; mas, no século XVIII como consequência de Hobbes, Descartes, Spinoza, de Locke, de Hume principalmente, que atuara no século XVII, eis que o primeiro termo do trinômio vai sendo esquecido para dominar então a fórmula filosofia-ciência. É a fase dos enciclopedistas, em que impera o naturalismo de Rosseau e o materialismo de Holbach e o de Helvetius. Na transição do século XVIII para o XIX surge à plêiade de pensadores e sistematizadores de que Kant é o centro. O utilitarismo de Hobbes, o empirismo de Locke, o sensualismo de Condillac, o fenomenismo de Hume, ressurgem sob novas formas: nos utilitaristas ingleses, nos materialistas franceses e alemães, nos pragmatistas americanos e nos dois positivismos de Comte e Spencer, trazendo como consequência a desmoralização completa da filosofia. O conceito do poeta Oscar Wilde sobre a arte, que ele considerou “acima do bem e do mal”, as normas poéticas dos parnasianos da escola de Le Comte e de Heredia, que punham na fatura do verso a única finalidade da poesia. Nos fins do século XIX Flaubert gastava cinco anos burilando seus romances e os poetas procuravam os primores do estilo; só se ouvia o clamor dos ourives dizendo: “arte pela arte”.
 
O homem jamais deixou de pensar; jamais deixou de tentar encontrar seu lugar na humanidade. O pensamento especulativo começou com Tales de Mileto, dos antigos jônicos gregos. Tales encontrou na água o princípio gerador de todas as coisas; aquele a que Hegel chamaria de “Hypokeimenon”; posteriormente, Aristóteles afirmaria: “ousia, quod quid est” (o que uma coisa é). Physis: pensamento, tão especulado por Temístius e depois por Proclo e Porfírio; os latinos traduziram-no por “natur”; e Kranz explicou-o como “essentia”; a raiz “phy” indicaria existência, o íntimo das coisas. Escreveu o poeta Thomas Macaulay: “A ciência dá passos e não saltos”; e no livro de Colossenses (II-VIII) lê-se: “Estai de sobreaviso, para que ninguém vos engane com filosofias e com seus falaces sofismas, segundo a tradição dos homens, segundo os elementos do mundo e não segundo Cristo”.

Sabe-se que seis séculos antes de Cristo, Tales de Mileto já estava convencido da curvatura da terra, sabia que a lua era iluminada pelo sol e previu o eclipse solar de 584 a.C. No século VI a.C, Pitágoras já falava da esfericidade da terra, lua, sol, da rotação da terra e da revolução de pelo menos dois planetas interiores, Mercúrio e Vênus em torno do sol. Aristarco no século III a.C, já sabia que a terra girava ao redor do sol. Anaxágoras em Atenas seria preso por ensinar que o sol era uma massa incandescente e a lua um corpo semelhante à terra; e Panécio de Rodes conta uma lenda, na qual Aristóteles teria se matado por não saber explicar a causa das marés.
 
O Australophitecus Habilis, hominídeo que habitava a estepe oriental africana, comia animais e plantas silvestres; usava instrumentos de pedras pontiagudas; depois criou machados, raspadeiras, pontas de lanças, arpões e outras armas à base de Sílex e osso; há quinhentos mil anos, esse primitivo controlaria o fogo, no século IV a.C; os sumérios inventariam a roda e consequentemente o carro de duas rodas puxado por onagros em 3.000 a.C; funcionariam os primeiros tornos de oleiro e os primeiros foles; caberia aos romanos inventarem as engrenagens e as rodas dentadas. Barcos à vela contornariam, na mesma época, a Ásia menor e a África do norte; utilizavam barcos à remos, movidos por escravos ou prisioneiros.

 As primeiras embarcações egípcias eram ramos de papiro atados uns aos outros; nas pirâmides egípcias já eram utilizadas serras de cobre e através de cunhas, cindiam blocos de pedra. Por volta de 1400 a.C, os mitannes temperam o ferro pela primeira vez na história. Citemos Euclides na geometria, Arquimedes que inventaria a roldana e Apolônio que descobriria a seção cônica na matemática.

Na idade média, século X, utilizou-se o cavalo preterindo-se o boi, como animal de tiro. A energia hidráulica e eólica impulsionava moinhos, serras, bombas e forjas. A pólvora negra esteve na base de uma nova técnica militar e a imprensa com tipos móveis, revolucionou a arte da informação. Na mesma época Colombo descobre a América em 1492; Vasco da Gama a Índia em 1498 e Fernão de Magalhães circunavega a terra em 1519.

Tudo é história, a existência é história. Lyell e Hutton na geologia, Petrarca e Calíope na poesia, Darwin e Couvier na biologia, Zenon e Spinoza na filosofia, Verdi e Mozart na música, Malinowski e Chomski na linguística, Rafael e Da Vinci na arte.

 A história traz seus exemplos mais magníficos, como os primitivos homens mais fortes e inteligentes que andavam na frente do bando com lanças pontiagudas para serem os primeiros a enfrentar as feras selvagens (esses eram os mais bem alimentados do bando); os humildes, homens que com lamparinas a querosene iluminavam a via férrea, andando até cinco quilômetros para ver se ao longo dela não havia ninguém caído sobre os trilhos; aos homens de fé e coragem como Paulo de Tarso, que enfrentou os respeitados filósofos gregos, e no areópago disse: “Varões de Atenas, estou a ver que sob todos os respeitos, sois de uma profunda religiosidade. Tanto assim que, passando pelos arredores e contemplando os vossos santuários, deparou-se-me um altar em que estava escrito: “ao deus desconhecido”. Ora, o que cultuais sem o conhecer isto é que vos venho anunciar”. (Atos dos apóstolos, XVII, XXII e XXIII). Até os gregos cultuavam um deus único e superior sem saber. É a incrível jornada do homem, do seu pensamento e de sua ciência.

Homens que nas palavras do poeta Eckermann: “São vasos que flutuam e se entrechocam”; e nas palavras do poeta Friedrich Hebbel: “O homem é aquilo que pensa”. 

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