terça-feira, 16 de outubro de 2012

ARTE E LITERATURA


ARTE E LITERATURA

Sobre a arte da antiguidade, estamos reduzidos a duas cabeças: a cabetça de Juno na vila ludovisi e a cabeça de Júpiter de otricoli. Não temos também uma obra autentica de Fídias, Myron, Polícleto, Praxíteles, Scopas ou Lísipo. Os filólogos mostram-nos uma época primitiva em que hindus, persas, germanos, celtas, latinos e gregos, tinham a mesma língua e a mesma cultura, conheciam o vinho, viviam do pastoreio e da lavoura, possuíam barcos a remo e, acrescentaram à suas velhas divindades védicas héstia e vésta.
Ao norte do mar Egeu, segundo informou o historiador Curtius, o clima é ainda áspero, semelhante ao da Alemanha Central, a Romélia não conhece os frutos do sul, não há murtas em sua costa. Aos 40 graus na Tessália, começam as florestas de árvores sempre verdes. Aos 39 graus na Phiótida, o ar tépido do mar e da costa faz crescer o arroz, o algodoeiro e a oliveira. Na Eubéia e na Ática já se encontram as palmeiras, nas cíclades elas abundam, na costa da Argólida há espessos bosques de limoeiros e laranjeiras. A tamareira africana vive num recanto de Creta. Em Atenas o povo tem o hábito de se deitar nas ruas, as mulheres costumam deitar-se nuas nos terraços; disse Eurípedes: "doce é nossa atmosfera, o frio do inverno é para nós sem rigor, e os dardos de febo não nos ferem". Os homens sóbrios compram uma fatia de melancia ou um grosso pepino que comem como se fosse uma maçã.
Na Grécia antiga, uma túnica curta e sem mangas era usada pelos homens, as mulheres usavam uma túnica longa, que descia até os pés e, dobrando-se na altura dos ombros, recaía até a cintura. Acrescentai uma grande peça quadrada de pano com que se cobriam, um véu para a mulher quando sai e sandálias. O filósofo Sócrates só se cobria e se calçava nos dias de festim.
Pelo ano de 689, Butades de Sicione tem a ideia de modelar e cozer figuras de argila, o que o leva a ornar com máscaras a cumieira dos telhados. Na mesma época, Roikos e Teodoro de Samos encntram um meio de fundir e vazar o bronze num molde. Em 650, Melas de Chio faz as primeiras estátuas de mármore. Um mundo se findou, o de Homero e o da epopéia, outro mundo começa: o de Arquíloco, Calinos, Terpandro, Olimpos e o da poesia lírica. O horizonte do homem dilatou-se, o mediterrâneo inteiro foi explorado, conhecem-se a Sicília e o Egito, sobre os quais Homero só tinha fábulas. Em 632, os Samianos navegam pela primeira vez até Tartesso e, com o dízimo de seus lucros, consagram à sua deusa hera uma enorme cratera de bronze, ornada de grifos e sustentada por três figuras ajoelhadas de onze côvados, os barcos de cinquenta remos dos velhos poemas tornam-se galeras de duzentos remadores, constroi-se o templo dório, surge a moeda, os algarismos, a escrita, nas guerras combate-se a pé e em linha, ao invés de combater-se usando carros e sem disciplina. A prosa só mais tarde será escrita, mas a melopédia monótona que sustentava o hexâmetro épico, dá lugar a uma multidão de cantos variados e de diferentes metros. Acrescenta-se o pentâmetro ao hexâmetro, inventa-se o troqueu, o jambo, o anapesto, combinam-se os novos e os antigos pés em dísticos e estrofes; a cítara que só tinha quatro cordas, é acrescida de mais três; Terpandro nomeia as músicas e cria seus modos, depois Olimpos e em seguida Taletas, acabam de apropriar os ritmos da cítara, da flauta e das vozes aos cambiantes da poesia.
Milon era quem conduzia seus concidadãos ao combate e Failos foi o chefe dos crotoníades que vieram auxiliar os gregos contra os medas. Um general não era então um calculista, que se mantinha numa elevação, com um mapa e um binóculo, ele batia-se com a lança na mão, à frente de sua tropa como um bom soldado. Milcíades, Arístides, Péricles, Agesilau, Pelópidas e Pirro, operavam não só com a inteligência mas também com os braços, para aplicar e desviar os golpes no assalto a pé e a cavalo.
Epaminondas que foi um político e um filósofo, foi também um grande soldado, morrendo em um campo de batalha. Arato que foi o último capitão da Grécia, tirou proveito de sua agilidade e de sua força em suas escaladas e surpresas. Alexandre arremetia do granico, como um hussardo e, como um volteador, era o primeiro a saltar na cidade dos oxídracos. Conta-se que Milon carregava um touro nos ombros e, segurando por detrás um carro atrelado.
O poeta Sófocles, dançou nu o peã depois da vitória de Salamina no fim do século IV. Alexandre chegando a Tróada, a fim de honrar Aquiles, tirou suas vestes e correu com seus companheiros em torno da coluna que assinalava a sepultura do herói. Pouco mais adiante, em Faselis, tendo visto na praça pública a estátua do filósofo Teodecto, veio depois da ceia dançar ao redor da estátua e lançar-lhe cororas. O filósofo Platão, o poeta Crísipo, e o poeta Timocreonte, foram primeiramente atletas. Pitágoras passava por ter tido o título de pugilato; o poeta Eurípedes foi coroado como atleta nos jogos elêusicos; Clístenes, o tirano de Sicione, forneceu aos pretendentes de sua filha um campo para exercícios, sobre isso escreveu o historiador Heródoto: "poder tirar a prova de sua raça e educação".
O período clássico terminou em política com a revolução de 1789, em literatura com Dellile e De Fontanes, em religião com o aparecimento de Joseph de Maistre e a queda do galicanismo. Ainda em política com Richelieu, em literatura com Malherbe, em religião pela reforma pacífica e reformadora que no princípio do século XVII, renovou o catolicismo francês. As canções de gesta e as trovas, o "romance da rosa", Carlos D’Orleans e Froissart, mostram o entusiasmo que se revelará mais tarde em Villon, Branstone e Rabelais, tal como seria na época de seu maior esplendor, no tempo de La Fontaine, Moliere e Voltaire, nos encantadores salões do século XVIII. Outras obras correspondem a caracteres um pouco mais duráveis e parecem obras primas à geração que as lê. Tal foi "astrée" que D’urfe compõs no começo do século XVII, romance pastoral longo, ainda mais insípido, berço de folhagem e de flores em que os homens, cansados dos morticínios e pilhagens das guerras religiosas, vieram ouvir os suspiros e delicadezas de céladon. Tais foram esses romances os de Mlle, de Scudery, "grand cyrus", "clélie", "euphes" de Lyly, "adone" de Marine e "hudibas" de Butler, todos de uma galantaria exagerada.
Lesage escreveu doze volumes de romances imitados do espanhol, o abade Prévost vinte volumes de novelas trágicas ou comoventes, Defoe escreveu duzentos volumes e Cervantes mais de cem novelas e dramas. O personagem de Robinson Crusoé, é antes de tudo um verdadeiro inglês, violento e pertinaz em suas resoluções, obstinado, paciente, infatigável e com surdas fermentações de imaginação. Dom Quixote é primeiramente um cavalheiresco espanhol, doente de espírito como oito séculos de cruzadas e de sonhos exagerados o fizeram. Moliere escreveu sobre almas vivas, alegres, irreverentes e corajosas. Racine sobre boas maneiras, galanteadores e sentimentalistas. Em Shakespeare os "clowns" não divertiam mais e os jovens, gentis homens parecem extravagantes, é preciso ser crítico para compreende-los. O teatro de Lazarillo, Tomes, Lope De Vega e Calderon De La Barca é a nuância de dois mundos, o mendigo e o cavaleiro. O poema de Dante Alighieri é a pintura do homem que arrebatado para fora deste mundo efêmero, percorre o mundo sobrenatural, numa alucinação mística que parece ser então o estado perfeito do espírito humano. O poema de Goethe é a pintura do homem que através da ciência e da vida, se contunde, se enfastia, erra e tateia e Platão que representava a juventude heróica do homem ativo e a encantadora adolescência do homem pensante.
Nos graus mais baixos estão os tipos que preferem a literatura realista e o teatro cômico. São os que a vida comum apresenta ou que podem alimentar o ridículo, como as "scenes de la vie bourgeoise" de Henri Mounier, "sancho pança" no Dom quixote, os teólogos e as criadas na obra de Fielding, os personagens sem destino em Walter Scott, ou na população inferior e pobre que se agita na "comedie humaine" de Balzac. Quanto ao teatro cômico basta citar Turcaret, Basile, Orgon, Arnolphe, Arpagão, Tartufo, Dandin; percebe-se o cômico ainda nas peças de Moliere, no "Tom Jones" de Fielding e no "Martim Chuzzlewit" de Dickens. As literaturas dramáticas e filosóficas onde as personagens sofrem com acontecimentos terríveis, lutas e dilaceramentos interiores, são próprias nas obras de Lord Byron, Allan Poe, "madame bovarry" de Flaubert, Victor Hugo, "werther" e nos heróis de Shakespeare: Coriolano, Hotspur, Hamlet, rei Lear, Timão, Leontes, Macbeth, Otelo, Antônio, Romeu, Julieta, Desdêmona e Ofélia.
No campo das literaturas, encontram-se muitos escritores que, de propósito puseram em cena belos sentimentos e almas superiores: Balzac com sua Margarida Claes e Eugenia Grandet, Corneille, Richardson, George Sand em "polieucte", "o cid ", os "horácios", ao representar o heroísmo raciocinador, outro em "pamela, clarissa e grandson" ao fazer falar a virtude protestante, a última em "mauprat, francois le champ".
Em arte, Giotto assemelhou-se a Rafael, tinha a mesma abundância, originalidade, a mesma beleza de invenção, seu sentimento da harmonia e da nobreza não eram menores, não estudou com Perugino e não conhecia as estátuas antigas. Verrochio, Pollaiollo, Castagno, fazem personagens angulosas, desgraciosas, aboladas de músculos e, que segundo escreveu Da Vinci: "parecem sacos de nozes". Em Fra Fillipo e Ghirlandajo são imóveis e inexpressivas, dispostas em filas monótonas, as pinturas de Signorelli, Filippo Lippi, Mantegna e Boticelli são esmaecidas, secas, sobressaem num relevo inesperado com um fundo sem ar; é preciso que Antonelo de Messina importe para a Itália a pintura a óleo para que o brilho retorne. O "céfalo" de Anibal Carraci, tem os músculos de Miguel Ângelo e o torso imitados dos venezianos. Em Rembrandt, predomina uma luz agonizante, de obscuridade, um doloroso sentimento do real pungente. Boas expressões, bons gestos, boa disposição e luzes são vistas nas obras de Rubens, Ruysdael, Poussin, Lesseur e Delacróix.
Dez anos após o começo do século XVIII, todos os grandes pintores estão mortos. A decadência se manifestou em um estilo mais pobre, numa imaginação limitada como em Franz Mieris e Shalken, um dos últimos fora Van Der Werf, por sua pintura fria e polida, por suas mitologias e nudeza e por suas carnações em marfim. O talento persiste apenas nos pintores de acessórios e de flores: Jaime De Witt, Ruysch, Van Huysum, Nicolau Verkolie, Van Limborch e Van Dick, num pequeno gênero que exige menor invenção e duraria alguns anos a mais, semelhante a algo fumejante numa terra ressequida.

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