ARTE E
LITERATURA
Sobre a arte da antiguidade, estamos
reduzidos a duas cabeças: a cabetça de Juno na vila ludovisi e a cabeça de
Júpiter de otricoli. Não temos também uma obra autentica de Fídias, Myron,
Polícleto, Praxíteles, Scopas ou Lísipo. Os filólogos mostram-nos uma época
primitiva em que hindus, persas, germanos, celtas, latinos e gregos, tinham a
mesma língua e a mesma cultura, conheciam o vinho, viviam do pastoreio e da
lavoura, possuíam barcos a remo e, acrescentaram à suas velhas divindades
védicas héstia e vésta.
Ao norte do mar Egeu, segundo informou o historiador Curtius,
o clima é ainda áspero, semelhante ao da Alemanha Central, a Romélia não
conhece os frutos do sul, não há murtas em sua costa. Aos 40 graus na Tessália,
começam as florestas de árvores sempre verdes. Aos 39 graus na Phiótida, o ar
tépido do mar e da costa faz crescer o arroz, o algodoeiro e a oliveira. Na
Eubéia e na Ática já se encontram as palmeiras, nas cíclades elas abundam, na
costa da Argólida há espessos bosques de limoeiros e laranjeiras. A tamareira
africana vive num recanto de Creta. Em Atenas o povo tem o hábito de se deitar
nas ruas, as mulheres costumam deitar-se nuas nos terraços; disse Eurípedes:
"doce é nossa atmosfera, o frio do inverno é para nós sem rigor, e os
dardos de febo não nos ferem". Os homens sóbrios compram uma fatia de
melancia ou um grosso pepino que comem como
se fosse uma maçã.
Na Grécia antiga, uma túnica curta e sem mangas era usada
pelos homens, as mulheres usavam uma túnica longa, que descia até os pés e,
dobrando-se na altura dos ombros, recaía até a cintura. Acrescentai uma grande
peça quadrada de pano com que se cobriam, um véu para a mulher quando sai e
sandálias. O filósofo Sócrates só se cobria e se calçava nos dias de festim.
Pelo ano de 689, Butades de Sicione tem a ideia de modelar e
cozer figuras de argila, o que o leva a ornar com máscaras a cumieira dos
telhados. Na mesma época, Roikos e Teodoro de Samos encntram um meio de fundir
e vazar o bronze num molde. Em 650, Melas de Chio faz as primeiras estátuas de
mármore. Um mundo se findou, o de Homero e o da epopéia, outro mundo começa: o
de Arquíloco, Calinos, Terpandro, Olimpos e o da poesia lírica. O horizonte do
homem dilatou-se, o mediterrâneo inteiro foi explorado, conhecem-se a Sicília e
o Egito, sobre os quais Homero só tinha fábulas. Em 632, os Samianos navegam
pela primeira vez até Tartesso e, com o dízimo de seus lucros, consagram à sua
deusa hera uma enorme cratera de bronze, ornada de grifos e sustentada por três
figuras ajoelhadas de onze côvados, os barcos de cinquenta remos dos velhos
poemas tornam-se galeras de duzentos remadores, constroi-se o templo dório,
surge a moeda,
os algarismos, a escrita, nas guerras combate-se a pé e em linha, ao invés de
combater-se usando carros e sem disciplina. A prosa só mais tarde será escrita,
mas a melopédia monótona que sustentava o hexâmetro épico, dá lugar a uma
multidão de cantos variados e de diferentes metros. Acrescenta-se o pentâmetro
ao hexâmetro, inventa-se o troqueu, o jambo, o anapesto, combinam-se os novos e
os antigos pés em dísticos e estrofes; a cítara que só tinha quatro cordas, é
acrescida de mais três; Terpandro nomeia as músicas e cria seus modos, depois
Olimpos e em seguida Taletas, acabam de apropriar os ritmos da cítara, da
flauta e das vozes aos cambiantes da poesia.
Milon era quem conduzia seus concidadãos ao combate e Failos
foi o chefe dos crotoníades que vieram auxiliar os gregos contra os medas. Um
general não era então um calculista, que se mantinha numa elevação, com um mapa
e um binóculo, ele batia-se com a lança na mão, à frente de sua tropa como um
bom soldado. Milcíades, Arístides, Péricles, Agesilau, Pelópidas e Pirro,
operavam não só com a inteligência mas também com os braços, para aplicar e
desviar os golpes no assalto a pé e a cavalo.
Epaminondas que foi um político e um filósofo, foi também um
grande soldado, morrendo em um campo de batalha. Arato que foi o último capitão
da Grécia, tirou proveito de sua agilidade e de sua força em suas escaladas e
surpresas. Alexandre arremetia do granico, como um hussardo e, como um
volteador, era o primeiro a saltar na cidade dos oxídracos. Conta-se que Milon
carregava um touro nos ombros e, segurando por detrás um carro atrelado.
O poeta Sófocles, dançou nu o peã depois da vitória de Salamina
no fim do século IV. Alexandre chegando a Tróada, a fim de honrar Aquiles,
tirou suas vestes e correu com seus companheiros em torno da coluna que
assinalava a sepultura do herói. Pouco mais adiante, em Faselis, tendo visto na
praça pública a estátua do filósofo Teodecto, veio depois da ceia dançar ao
redor da estátua e lançar-lhe cororas. O filósofo Platão, o poeta Crísipo, e o
poeta Timocreonte, foram primeiramente atletas. Pitágoras passava por ter tido
o título de pugilato; o poeta Eurípedes foi coroado como atleta nos jogos
elêusicos; Clístenes, o tirano de Sicione, forneceu aos pretendentes de sua
filha um campo para exercícios, sobre isso escreveu o historiador Heródoto:
"poder tirar a prova de sua raça e educação".
O período clássico terminou em política com a revolução de
1789, em literatura com Dellile e De Fontanes, em religião com o aparecimento
de Joseph de Maistre e a queda do galicanismo. Ainda em política com Richelieu,
em literatura com Malherbe, em religião pela reforma pacífica e reformadora que
no princípio do século XVII, renovou o catolicismo francês. As canções de gesta
e as trovas, o "romance da rosa", Carlos D’Orleans e Froissart,
mostram o entusiasmo que se revelará mais tarde em Villon, Branstone e
Rabelais, tal como seria na época de seu maior esplendor, no tempo de La
Fontaine, Moliere e Voltaire, nos encantadores salões do século XVIII. Outras
obras correspondem a caracteres um pouco mais duráveis e parecem obras primas à
geração que as lê. Tal foi "astrée" que D’urfe compõs no começo do
século XVII, romance pastoral longo, ainda mais insípido, berço de folhagem e
de flores em que os homens, cansados dos morticínios e pilhagens das guerras
religiosas, vieram ouvir os suspiros e delicadezas de céladon. Tais foram esses
romances os de Mlle, de Scudery, "grand cyrus", "clélie",
"euphes" de Lyly, "adone" de Marine e "hudibas"
de Butler, todos de uma galantaria exagerada.
Lesage escreveu doze volumes de romances imitados do
espanhol, o abade Prévost vinte volumes de novelas trágicas ou comoventes,
Defoe escreveu duzentos volumes e Cervantes mais de cem novelas e dramas. O
personagem de Robinson Crusoé, é antes de tudo um verdadeiro inglês, violento e
pertinaz em suas resoluções, obstinado, paciente, infatigável e com surdas
fermentações de imaginação. Dom Quixote é primeiramente um cavalheiresco
espanhol, doente de espírito como oito séculos de cruzadas e de sonhos
exagerados o fizeram. Moliere escreveu sobre almas vivas, alegres, irreverentes
e corajosas. Racine sobre boas maneiras, galanteadores e sentimentalistas. Em
Shakespeare os "clowns" não divertiam mais e os jovens, gentis homens
parecem extravagantes, é preciso ser crítico para compreende-los. O teatro de
Lazarillo, Tomes, Lope De Vega e Calderon De La Barca é a nuância de dois
mundos, o mendigo e o cavaleiro. O poema de Dante Alighieri é a pintura do
homem que arrebatado para fora deste mundo efêmero, percorre o mundo
sobrenatural, numa alucinação mística que parece ser então o estado perfeito do
espírito humano. O poema de Goethe é a pintura do homem que através da ciência
e da vida, se contunde, se enfastia, erra e tateia e Platão que representava a
juventude heróica do homem ativo e a encantadora adolescência do homem
pensante.
Nos graus mais baixos estão os tipos que preferem a
literatura realista e o teatro cômico. São os que a vida comum apresenta ou que
podem alimentar o ridículo, como as "scenes de la vie bourgeoise" de
Henri Mounier, "sancho pança" no Dom quixote, os teólogos e as
criadas na obra de Fielding, os personagens sem destino em Walter Scott, ou na
população inferior e pobre que se agita na "comedie humaine" de
Balzac. Quanto ao teatro cômico basta citar Turcaret, Basile, Orgon, Arnolphe,
Arpagão, Tartufo, Dandin; percebe-se o cômico ainda nas peças de Moliere, no
"Tom Jones" de Fielding e no "Martim Chuzzlewit" de
Dickens. As literaturas dramáticas e filosóficas onde as personagens sofrem com
acontecimentos terríveis, lutas e dilaceramentos interiores, são próprias nas
obras de Lord Byron, Allan Poe, "madame bovarry" de Flaubert, Victor
Hugo, "werther" e nos heróis de Shakespeare: Coriolano, Hotspur,
Hamlet, rei Lear, Timão, Leontes, Macbeth, Otelo, Antônio, Romeu, Julieta,
Desdêmona e Ofélia.
No campo das literaturas, encontram-se muitos escritores que,
de propósito puseram em cena belos sentimentos e almas superiores: Balzac com
sua Margarida Claes e Eugenia Grandet, Corneille, Richardson, George Sand em
"polieucte", "o cid ", os "horácios", ao
representar o heroísmo raciocinador, outro em "pamela, clarissa e grandson"
ao fazer falar a virtude protestante, a última em "mauprat, francois le
champ".
Em arte, Giotto assemelhou-se a Rafael, tinha a mesma
abundância, originalidade, a mesma beleza de invenção, seu sentimento da
harmonia e da nobreza não eram menores, não estudou com Perugino e não conhecia
as estátuas antigas. Verrochio, Pollaiollo, Castagno, fazem personagens
angulosas, desgraciosas, aboladas de músculos e, que segundo escreveu Da Vinci:
"parecem sacos de nozes". Em Fra Fillipo e Ghirlandajo são imóveis e
inexpressivas, dispostas em filas monótonas, as pinturas de Signorelli, Filippo
Lippi, Mantegna e Boticelli são esmaecidas, secas, sobressaem num relevo
inesperado com um fundo sem ar; é preciso que Antonelo de Messina importe para
a Itália a pintura a óleo para que o brilho retorne. O "céfalo" de
Anibal Carraci, tem os músculos de Miguel Ângelo e o torso imitados dos
venezianos. Em Rembrandt, predomina uma luz agonizante, de obscuridade, um
doloroso sentimento do real pungente. Boas expressões, bons gestos, boa
disposição e luzes são vistas nas obras de Rubens, Ruysdael, Poussin, Lesseur e
Delacróix.
Dez anos após o começo do século XVIII, todos os grandes
pintores estão mortos. A decadência se manifestou em um estilo mais pobre, numa
imaginação limitada como em Franz Mieris e Shalken, um dos últimos fora Van Der
Werf, por sua pintura fria e polida, por suas mitologias e nudeza e por suas
carnações em marfim. O talento persiste apenas nos pintores de acessórios e de
flores: Jaime De Witt, Ruysch, Van Huysum, Nicolau Verkolie, Van Limborch e Van
Dick, num pequeno gênero que exige menor invenção e duraria alguns anos a mais,
semelhante a algo fumejante numa terra ressequida.
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