quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A LITERATURA DENTRO DE UMA CASCA DE NOZ


A LITERATURA DENTRO DE UMA CASCA DE NOZ

O poeta italiano Ugo Foscolo (1778-1827), escreveu que a literatura, é uma arte liberalíssima e independente. Quando é venal, nada mais vale. Os literatos eram conhecidos na renascença pela sua erudição, por isso eram chamados de vetusos; e assim foi com o inglês Charles Dickens, que escrevia mais de cinqüenta páginas por dia. O escritor francês, romancista, Honoré de Balzac, teve mais de sessenta livros publicados, um verdadeiro "inveterado" na arte de escrever. O romance "o morro dos ventos uivantes" de Emily Bronte, foi descoberto pela irmã de Emily, escondido numa gaveta. José de Alencar, usou as folhas de seu primeiro romance chamado "os contrabandistas", para acender charutos. Segundo o filósofo romano Cícero, a illíada de Homero, foi escrita em um pedaço de pergaminho tão pequeno que podia ser envolvido por uma casca de noz; e segundo o historiador Plínio o velho, Homero discursava nas praças públicas em alto e bom som trechos de sua "odisséia".
Cantam as guerras e os varões. Em Virgílio: "arma virumque cano". Em Camões: "as armas e os barões". Em Torquato Tasso: "canto l’arme pietose é capitano". Em Voltaire: "je chants le heros". Em Homero: "canta, ó musa, a cólera de Aquiles". Na sua sátira da "urbis incommoda", em que verbera os vícios que corroem noturnamente a cidade imperial de Roma, exclamou o poeta Juvenal com verdadeira indignação: "non possum ferre, quiritis graecam urbem, quam vis quota portio faeces achaeae?".
Roma com os seus generais, havia pelo número suplantado politicamente os gregos, esta havia invadido a metrópole vitoriosa com seus costumes, com a espiritualidade de sua arte e a erudição complexa de sua filosofia. Na idade média, os tesouros da cultura e da imaginação haviam desaparecido nos subterrâneos dos castelos taciturnos e de mosteiros escuros. Fora das bibliotecas monacais do século XI, não existiam notícias de Ésquilo, de Lucrécio ou de Platão; Aristóteles era mal traduzido e mal interpretado e resumia entre os escombros do mundo latino, tudo o que restava da filosofia grega.
Nos finais do século XII e início do século XIII, surgiu na Provença uma nova forma de poesia, vinda de um espírito novo, eram os trovadores (trovadorismo), os trovadores tinham a ideia de que o mundo acabava de nascer, e que eram eles, como dizia Victor Hugo, de Homero: "os pássaros de sua alvorada". Partindo do Languedoc, da Provença, do Limousin, espalhando-se pela Itália e Espanha, os cantores errantes encontram ambiente nas cortes de Bonifácio II, marquês de Montferrat, na corte de Azzo VI, e Azzo VII, e principalmente na corte de Frederico II da Sicília, que se tornara o mecenas daqueles tempos.
Os séculos XIV, XV e XVI, foram agitados, quase que inteiramente pela luta entre antigos e modernos. Bocaccio escreveria em latim, como num protesto contra a língua vulgar, seu "de casibus virorum illustrium" e "de claris mulleribus", ao mesmo tempo em que Petrarca escrevia "Africa" e "de viris illustribus". Leôncio Pilatos traduz Homero em latim, Salutati restaura "ad familiaris" de Cícero, Poggio Bracciolino exuma Quintiliano, Lucrécio, Platão e Sílio Itálico, preparando com isso o advento de Lorenço Valla.
A tomada de Constantinopla pelos turcos no ano de 1453, foi um fator imprevisto de que se serviram os humanistas italianos, por inspiração de Leôncio Pilatos e Coluccio Salutati, foram chamados para a península, notáveis gramáticos gregos que tinham vertido para o latim as obras dos filósofos Platão, Xenofonte e Demóstenes; as universidades italianas enchiam-se de mestres eruditos, trazedores da antiguidade clássica, como Demétrio Calcondilas, João Argirópulos e Constantino Láscaris; na França a epopéia Carlovíngia oferecia o mais opulento material às imaginações, e os trovadores não foram menos considerados.
Pelos idos de 1392, as fórmulas poéticas já possuíam sua codificação na "art de Dictier et de fere chançons, balades et rondeaux" de Eustache Deschamps. Em 1549 foi preparada a transição por Marot e Sibilet, celebravam os humanistas o seu triunfo à illíada e a eneida com a pena de Joaquim de Bellay em sua "defense et illustration de la langue française". Os bizantinos rimadores eram muitos, dos gêneros vindo da poesia medieval, adotaram apenas o soneto, enriquecendo os modelos que vinham dos gregos e dos latinos.
Até o século VI de nossa era, as letras latinas tinham historiadores como: Cornélio, Varrão, Salustio, César, Tito Lívio, Arruncio, Cremuncio, Valério Máximo, Quinto Curcio, Tácito, Suêtonio, Justino, Ânio Floro, Lactâncio, Eutrópio, São Jerônimo, Sulpício Severo, Hilarião e Cassiodorus; enquanto os gregos tinham: Heródoto, Tucídides, Xenofonte, Ctézias, Teopompo, Éforo, Timeu, Isócrates, Políbio, Jubo, Dionísio de Halicarnasso, Diodoro da Sicília, Estrabão, Josephus, Plutarco, Dion Cássio, Eusébio, Herodiano e Diógenes Laerte.
O inglês James Agate, resumiu as grandes obras da literatura. "Otelo", ensina que as senhoras distintas devem tomar cuidado com as roupas brancas; "Romeu e Julieta", prova que os rapazes bem educados não devem penetrar em festas; "Hamlet" mostra o que acontece quando se acredita em fantasmas; "tartufo" de Moliere, mostra o que acontece quando um católico entra na casa de outro nos países ocidentais.
Quanto a "Otelo", que tragédia provocou um lenço desviado de Desdêmona. Dois séculos depois, o mesmo lenço invade o palco e provoca a obra "noite de Hernani" escrita pelo francês Victor Hugo; as palavras são sinistras, Shakespeare as usou sem a menor cerimônia, a palavra e a batalha inspiraram o poema do rei James, e o nome do rei sugere o nome do lago, (Jacob James); Otelo apressou-se em voltar para os braços de Desdêmona, enquanto a esquadra turca era dizimada por uma tempestade. Segundo o bardo, Dom Quixote encontrou em Sierra Morena, o pobre Cardênio apaixonado por Lucinda, pérfida, Lucinda casou-se com o amigo do noivo, a ira de Cardênio o fez virar um assaltante impiedoso.
Uma reforma na métrica foi tentada a mais de um século por José Anastácio Da Cunha (na versão do idílio XIV de Gessner); não logrou a aprovação de A. De Castilho, que mais tarde examinou a questão; a propósito de outra tentativa de Nolasco Da Cunha; "é uma quimera sem o mínimo vislumbre de possibilidade"; dizia Castilho sobre a neutralização dos hexâmetros e pentâmetros latinos.
"Te minimise decet, quae plurima voce peregi supplice, cum posti florida serta darem"(Tibullus - lib.I, el. V.). "Nanque agor, ut per plana citus sola verbere turben quem seler assueta, versat arb arte puer"(Tibullus – lib. I, el. V.). "Me miserum adpicite, et si vitam puriter egi eripite hanc pestem perniciemque mihi"(Catullus – el. LXXVI).
Alude o epigrama de Cátulo à César: "ut cedant certis sidera temporibus e Berenice vertice caesariem, quam de virgineis gesserat exuviis?". No poeta Propércio lê-se: "perjuras tunc ille solet punire puellas, quam vacet alternus biandus audire susurros non tribus infernum custodit faucibus antrum". E em Cátulo lê-se: "phaselus iste, quen videtis hospites".
Nos tempos clássicos da literatura italiana era o hendecassílabo o herdeiro único do hexâmetro greco-latino; na Itália o inovador foi Leon Battista Alberti: "sempri mi esta innanzi che il fin condussi, quel ultima notte funesta de brevi giorni tuoi"; "quando alle nostre case da lungi il rombo la diva severa discende de la volante s’ode".
Na França as tentativas foram infelizes e insignificantes, em língua de todo inapta à essas tardias ressurreições. Em Portugal tentaram J. Anastácio Da Cunha e Vicente Pedro Nolasco. Em Giovenalli Sacchi lê-se: "orna il colle vago, parnaso or adorna la fronte quinci di sancti ramiquindi di frondi sacre, Qui spargui intorno, con calta amaranto viole colma d’odor tutta spiri la bella via"(della divisione del tempo nella musica, nel balo e nella poesia milano, 1770. P.150). Dionisi Attanagi escreveu: "ó del tutto vani degli uomini folli desiri, ó cure fallaci, ó lubrico stato loro, a che s’ordiscon quaggiu pur nuove speranze, se quaggiu nulla por ola bieve dura".
Na poesia trovadoresca, que pouco se consolidou pela tradição dos séculos clássicos encontra-se as palavras de D. Diniz: "madre, moiro d’amores que se deu minha amada quando vejo esta cinta que por seu amor trago".
De Homero conhecemos a obra e sua cegueira, mas nada de sua vida; de Moliere sabemos que fora castigado por Luís XIV por não "disfarçar os homens de seu tempo", ao contrário de La Fontaine que os bem disfarçou: comparou-os com animais.

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