A LITERATURA DENTRO DE UMA CASCA DE NOZ
O poeta italiano Ugo Foscolo (1778-1827), escreveu que a
literatura, é uma arte liberalíssima e independente. Quando é venal, nada mais
vale. Os literatos eram conhecidos na renascença pela sua erudição, por isso
eram chamados de vetusos; e assim foi com o inglês Charles Dickens, que
escrevia mais de cinqüenta páginas por dia. O escritor francês, romancista,
Honoré de Balzac, teve mais de sessenta livros publicados, um verdadeiro
"inveterado" na arte de escrever. O romance "o morro dos ventos
uivantes" de Emily Bronte, foi descoberto pela irmã de Emily, escondido
numa gaveta. José de Alencar, usou as folhas de seu primeiro romance chamado
"os contrabandistas", para acender charutos. Segundo o filósofo
romano Cícero, a illíada de Homero, foi escrita em um pedaço de pergaminho tão
pequeno que podia ser envolvido por uma casca de noz; e segundo o historiador
Plínio o velho, Homero discursava nas praças públicas em alto e bom som trechos
de sua "odisséia".
Cantam as guerras e os varões. Em Virgílio: "arma
virumque cano". Em Camões: "as armas e os barões". Em Torquato
Tasso: "canto l’arme pietose é capitano". Em Voltaire: "je
chants le heros". Em Homero: "canta, ó musa, a cólera de
Aquiles". Na sua sátira da "urbis incommoda", em que verbera os
vícios que corroem noturnamente a cidade imperial de Roma, exclamou o poeta Juvenal
com verdadeira indignação: "non possum ferre, quiritis graecam urbem, quam
vis quota portio faeces achaeae?".
Roma com os seus generais, havia pelo número suplantado
politicamente os gregos, esta havia invadido a metrópole vitoriosa com seus
costumes, com a espiritualidade de sua arte e a erudição complexa de sua
filosofia. Na idade média, os tesouros da cultura e da imaginação haviam
desaparecido nos subterrâneos dos castelos taciturnos e de mosteiros escuros.
Fora das bibliotecas monacais do século XI, não existiam notícias de Ésquilo,
de Lucrécio ou de Platão; Aristóteles era mal traduzido e mal interpretado e
resumia entre os escombros do mundo latino, tudo o que restava da filosofia
grega.
Nos finais do século XII e início do século XIII, surgiu na
Provença uma nova forma de poesia, vinda de um espírito novo, eram os
trovadores (trovadorismo), os trovadores tinham a ideia de que o mundo acabava
de nascer, e que eram eles, como dizia Victor Hugo, de Homero: "os
pássaros de sua alvorada". Partindo do Languedoc, da Provença, do Limousin,
espalhando-se pela Itália e Espanha, os cantores errantes encontram ambiente
nas cortes de Bonifácio II, marquês de Montferrat, na corte de Azzo VI, e Azzo
VII, e principalmente na corte de Frederico II da Sicília, que se tornara o
mecenas daqueles tempos.
Os séculos XIV, XV e XVI, foram agitados, quase que
inteiramente pela luta entre antigos e modernos. Bocaccio escreveria em latim,
como num protesto contra a língua vulgar, seu "de casibus virorum
illustrium" e "de claris mulleribus", ao mesmo tempo em que
Petrarca escrevia "Africa" e "de viris illustribus".
Leôncio Pilatos traduz Homero em latim, Salutati restaura "ad
familiaris" de Cícero, Poggio Bracciolino exuma Quintiliano, Lucrécio,
Platão e Sílio Itálico, preparando com isso o advento de Lorenço Valla.
A tomada de Constantinopla pelos turcos no ano de 1453, foi
um fator imprevisto de que se serviram os humanistas italianos, por inspiração
de Leôncio Pilatos e Coluccio Salutati, foram chamados para a península,
notáveis gramáticos gregos que tinham vertido para o latim as obras dos
filósofos Platão, Xenofonte e Demóstenes; as universidades italianas enchiam-se
de mestres eruditos, trazedores da antiguidade clássica, como Demétrio
Calcondilas, João Argirópulos e Constantino Láscaris; na França a epopéia
Carlovíngia oferecia o mais opulento material às imaginações, e os trovadores
não foram menos considerados.
Pelos idos de 1392, as fórmulas poéticas já possuíam sua
codificação na "art de Dictier et de fere chançons, balades et
rondeaux" de Eustache Deschamps. Em 1549 foi preparada a transição por
Marot e Sibilet, celebravam os humanistas o seu triunfo à illíada e a eneida
com a pena de Joaquim de Bellay em sua "defense et illustration de la
langue française". Os bizantinos rimadores eram muitos, dos gêneros vindo
da poesia medieval, adotaram apenas o soneto, enriquecendo os modelos que
vinham dos gregos e dos latinos.
Até o século VI de nossa era, as letras latinas tinham
historiadores como: Cornélio, Varrão, Salustio, César, Tito Lívio, Arruncio,
Cremuncio, Valério Máximo, Quinto Curcio, Tácito, Suêtonio, Justino, Ânio
Floro, Lactâncio, Eutrópio, São Jerônimo, Sulpício Severo, Hilarião e
Cassiodorus; enquanto os gregos tinham: Heródoto, Tucídides, Xenofonte,
Ctézias, Teopompo, Éforo, Timeu, Isócrates, Políbio, Jubo, Dionísio de
Halicarnasso, Diodoro da Sicília, Estrabão, Josephus, Plutarco, Dion Cássio,
Eusébio, Herodiano e Diógenes Laerte.
O inglês James Agate, resumiu as grandes obras da literatura.
"Otelo", ensina que as senhoras distintas devem tomar cuidado com as
roupas brancas; "Romeu e Julieta", prova que os rapazes bem educados
não devem penetrar em festas; "Hamlet" mostra o que acontece quando
se acredita em fantasmas; "tartufo" de Moliere, mostra o que acontece
quando um católico entra na casa de outro nos países ocidentais.
Quanto a "Otelo", que tragédia provocou um lenço
desviado de Desdêmona. Dois séculos depois, o mesmo lenço invade o palco e
provoca a obra "noite de Hernani" escrita pelo francês Victor Hugo;
as palavras são sinistras, Shakespeare as usou sem a menor cerimônia, a palavra
e a batalha inspiraram o poema do rei James, e o nome do rei sugere o nome do
lago, (Jacob James); Otelo apressou-se em voltar para os braços de Desdêmona,
enquanto a esquadra turca era dizimada por uma tempestade. Segundo o bardo, Dom
Quixote encontrou em Sierra Morena, o pobre Cardênio apaixonado por Lucinda,
pérfida, Lucinda casou-se com o amigo do noivo, a ira de Cardênio o fez virar
um assaltante impiedoso.
Uma reforma na métrica foi tentada a mais de um século por
José Anastácio Da Cunha (na versão do idílio XIV de Gessner); não logrou a
aprovação de A. De Castilho, que mais tarde examinou a questão; a propósito de
outra tentativa de Nolasco Da Cunha; "é uma quimera sem o mínimo vislumbre
de possibilidade"; dizia Castilho sobre a neutralização dos hexâmetros e
pentâmetros latinos.
"Te minimise decet, quae plurima voce peregi supplice,
cum posti florida serta darem"(Tibullus - lib.I, el. V.). "Nanque
agor, ut per plana citus sola verbere turben quem seler assueta, versat arb
arte puer"(Tibullus – lib. I, el. V.). "Me miserum adpicite, et si
vitam puriter egi eripite hanc pestem perniciemque mihi"(Catullus – el.
LXXVI).
Alude o epigrama de Cátulo à César: "ut cedant certis
sidera temporibus e Berenice vertice caesariem, quam de virgineis gesserat
exuviis?". No poeta Propércio lê-se: "perjuras tunc ille solet punire
puellas, quam vacet alternus biandus audire susurros non tribus infernum
custodit faucibus antrum". E em Cátulo lê-se: "phaselus iste, quen
videtis hospites".
Nos tempos clássicos da literatura italiana era o
hendecassílabo o herdeiro único do hexâmetro greco-latino; na Itália o inovador
foi Leon Battista Alberti: "sempri mi esta innanzi che il fin condussi,
quel ultima notte funesta de brevi giorni tuoi"; "quando alle nostre
case da lungi il rombo la diva severa discende de la volante s’ode".
Na França as tentativas foram infelizes e insignificantes, em
língua de todo inapta à essas tardias ressurreições. Em Portugal tentaram J.
Anastácio Da Cunha e Vicente Pedro Nolasco. Em Giovenalli Sacchi lê-se:
"orna il colle vago, parnaso or adorna la fronte quinci di sancti
ramiquindi di frondi sacre, Qui spargui intorno, con calta amaranto viole colma
d’odor tutta spiri la bella via"(della divisione del tempo nella musica,
nel balo e nella poesia milano, 1770. P.150). Dionisi Attanagi escreveu:
"ó del tutto vani degli uomini folli desiri, ó cure fallaci, ó lubrico
stato loro, a che s’ordiscon quaggiu pur nuove speranze, se quaggiu nulla por
ola bieve dura".
Na poesia trovadoresca, que pouco se consolidou pela tradição
dos séculos clássicos encontra-se as palavras de D. Diniz: "madre, moiro
d’amores que se deu minha amada quando vejo esta cinta que por seu amor
trago".
De Homero conhecemos a obra e sua cegueira, mas nada de sua
vida; de Moliere sabemos que fora castigado por Luís XIV por não
"disfarçar os homens de seu tempo", ao contrário de La Fontaine que
os bem disfarçou: comparou-os com animais.
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