terça-feira, 16 de outubro de 2012

A VELHA HISTÓRIA DO SOL


A VELHA HISTÓRIA DO SOL







 
     
Escreveu o poeta John Heywood em 1546: “While the sunnes shineth” (enquanto o sol brilha). Muitos de nós temos uma vaga noção de que o sol é uma estrela do tipo anão-alaranjado, sua massa é mais de trezentas e trinta mil vezes maior que a da terra, seu brilho consegue cobrir no espaço noventa e três milhões de milhas em pouco mais de oito minutos, a maior parte dessa radiação ocupa uma faixa de um quarto de micro a três micros, ou seja, de catorze a três milésimos de milímetro e nos bombardeia um potencial energético trinta e duas mil vezes superior ao que podemos consumir em 24 horas. Há mais de duzentos anos o astrônomo Hershell sugeriu que, embora a superfície solar fosse obviamente mais quente, habitantes poderiam viver dentro do sol com muita comodidade.
                                   “E o sol se deteve, e a lua parou,
                                   Até que o povo se vingou de seus inimigos.
                                   O sol, pois, se deteve no meio do céu,
                                   E não se apressou a pôr-se, quase um dia inteiro”.
                                   (livro de Josué, cap. X:XIII).
                                  
                                   “Os céus manifestam a glória de Deus,
                                   Neles pôs uma tenda para o sol que é qual noivo,
                                   Que sai do seu tálamo, e se alegra como um herói,
                                   A correr o seu caminho. A sua saída é desde uma extremidade
                                   Deles, e nada se furta ao seu calor”.
                                   (Salmos XIX).

            O sol aparece nas primeiras tentativas encetadas pelo homem no sentido de descobrir o mundo a sua volta, somos seres dependentes do sol. Sabe-se que as primeiras culturas e religiões foram erigidas em torno do sol, são bem conhecidos, por exemplo, na erudição egípcia Rá o deus-sol, e sua heliópolis. As lendas gregas e romanas reafirmaram essa influência em Apolo e Phaeton, com o sol representado por um carro de fogo a cruzar o céu. Druidas e Astecas também adoraram o sol, a ele os homens da antiguidade sacrificaram e agradeceram. No livro “o sol” publicado em 1875, o padre Ângelo Seché comenta a atitude do homem em função desse astro: “diversos povos da antiguidade idolatraram o sol, erro talvez menos degradante que muitos outros, visto que essa estrela é a mais perfeita imagem do divino, instrumento através do qual o criador estende quase todas as suas bênçãos à esfera física”.
            Ao mesmo tempo boa fortuna e desafio, assim tem sido o sol desde Ícaro e Dédalo, que muito próximo dele ousaram voar e caíram, para o sol acendiam-se fogos em tempos e abriam-se suas portas. Contudo, algo mais importante aconteceria em 212 a.C., quando o grego Arquimedes incendiou a frota de Marcelo “o romano”, quando do ataque a Siracusa. “de temperamentis”, é a mais antiga obra a mencionar tal façanha científica de Arquimedes. “com vidros ardentes” disse Galeno, “ele incendiou os barcos inimigos em Siracusa”. Os historiadores Tito Lívio e Plutarco não se referiram ao fato, embora tenham se referido a outras armas bem mais complexas imaginadas por Arquimedes para combater Marcelo, este sitiou Siracusa, que terminou capturada, e fez matar Arquimedes que desenhava círculos nas areias da praia.
            Caberia a Joannis Tzetzae, escritor do século XII, uma descrição detalhada do incêndio da frota pela inovadora arma: “ Arquimedes ateou fogo à armada de marcelo por meio de um vidro incendiário composto de pequenos espelhos quadrados que se movimentavam sobre dobradiças em todas as direções, desviando os raios solares sobre a frota romana, até reduzi-las à cinzas”. No mesmo século, Ioanne Zonaras descreveu em seu “chronycon” o último sítio de Constantinopla, no qual Proclus utilizou espelhos incendiários para queimar a frota de Vitélio. Comenta o historiador que os espelhos eram semelhantes aos que usara Arquimedes em Siracusa. No sexto século, o arquiteto Anthermius descreveu o feito de Arquimedes em sua obra “paradoxus mechanicus” exibindo cálculos segundo os quais vinte e quatro espelhos de tamanhos variados, poderiam realmente realizar a façanha, segundo Anthermius, Arquimedes teria repetido o truque várias vezes.
            Se Arquimedes incendiou ou não as velas dos navios inimigos, é uma controvérsia histórica, todavia, é que a posição do sol na concepção humana mudou. Em 1600 a.C., Rá o deus-sol,  protegia com sua luz à Tutancâmon e sua mulher no Egito, mas por volta de 1600 d.C., a ciência começou a olhar com outros olhos tais superstições. Em 1609 Galileu fez o primeiro telescópio astronômico e o apontou para o sol, ficou convencido da correção da teoria de Copérnico, segundo a qual o sol e não a terra era o centro do sistema solar, esse telescópio lhe mostrou também que o astro rei possuía manchas, por publicar cartas concernentes a essas manchas, Galileu viu-se obrigado pela inquisição a abjurar ambas as “heresias”. Solomon de Caux fez o sol trabalhar aquecendo o ar de sua máquina solar, usando este ar expandido para bombear água. No século XVII, Kirsher garantia que seu conjunto de cinco espelhos era capaz de incendiar materiais à distância, um século mais tarde o francês Buffon utilizando um conjunto de cento e sessenta e oito espelhos planos, conseguiu em 1747 queimar madeira a duzentos pés de distância e para os que ainda se mantiveram céticos, fundiu chumbo a cento e trinta pés, e prata, a sessenta pés. Villette em Lion, elaborou fornalhas solares de ferro polido, suas fornalhas foram usadas na Pérsia e na Dinamarca. Em 1695, os italianos Targione e Averone, usaram um grande espelho para decompor um diamante. Em 1816, o clérigo escocês Robert Stirling e seu irmão James, construíram uma máquina de dois pistões a ar. A máquina de ar quente de John Ericsson foi divulgada em 1826, seu inventor viu modelos de 300 CV, propulsionarem as rodas de um vapor, o engenho foi mais tarde adaptado ao trabalho solar. Com o apoio de Napoleão III, Mouchot arquitetou entre 1866 e 1872, uma máquina a vapor movida pelo sol, seu trabalho foi exibido em Tours, e testado mais tarde na Argélia, em bombeamento de água.
Na França, Pifre construiu em 1880, uma máquina a vapor aquecida por um coletor parabólico de cem pés quadrados, gerava 2/3 de cavalo vapor, que Pifre aplicava para movimentar um prelo. Telier fez uma máquina solar com 215 pés quadrados de superfície, que moviam um mecanismo onde o meio de operação era a amônia, ao invés do vapor ar ou água, o modelo aparece ilustrado na “scientific american” de 1885. Em 1871, o norte americano Charles Wilson, construiu um alambique solar em Las Salinas, no Chile, para garantir o suprimento de água potável a uma mina.

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