“O conhecido é finito, o infinito é desconhecido, do ponto
de vista intelectual, estamos em uma pequena ilha num oceano de
inexplicabilidade. Nossa tarefa em cada geração é reivindicar mais terras” (T.H.Huxley,
1887).
“Se me ordena que me rinda al señor de los mundos, es el
quién te creó” (El corán, sura 40).
“Nós nos perguntamos que propósito há no canto dos pássaros,
desse mesmo modo, devemos nos perguntar por que a mente humana se preocupa em
penetrar nesses segredos. A diversidade dos fenômenos da natureza são tão
grandes e ricas, justamente para que a mente do homem não se torne carente” (Kepler, misterium cosmographicum).
“A cana trilhada não quebrará, nem apagará o pavio que
fumega, com verdade trará justiça” (Isaías).
Certa
vez no final de uma conferência de Bertrand Russel, uma velhinha no fundo da
sala levantou-se e disse: “o senhor nos dizer que o sol é o centro do universo,
é um tremendo disparate. O mundo não passa de um prato achatado equilibrado nas
costas de uma tartaruga gigante”. Russel sorriu e perguntou: “e onde se apóia a
tartaruga?”. E a velhinha respondeu: “você é um jovem muito inteligente, mas
são tudo tartarugas por aí abaixo”. Conta Plutarco que Alexandre o grande,
quando soube que não havia mais mundos a serem conquistados, caiu em prantos.
Para Aristóteles, o mundo não teve início e para a fé cristã, o mundo foi
criado na primavera do ano de 5199 a.C., Átila, o huno, costumava dizer: “onde
meu cavalo pisa, não cresce mais grama”.
Para
quase todas as civilizações, sempre foi necessário ilustrar não somente a face
visível da terra e do céu, mas também incluir no espaço um mundo para os
mortos, para os abençoados e para os deuses. Todas as civilizações antigas tiveram
suas cosmogonias, uma história de como o mundo começou e continua, de como os
homens surgiram e do que os deuses esperavam deles.
Para
os egípcios, o universo era uma ilha plana cortada por um rio, sobre a qual
estava suspensa uma abóboda celeste sustentada por quatro colunas. Para os
hindus, o universo era um ovo redondo coberto por sete cascas concêntricas
feitas de materiais distintos. Já os babilônios imaginavam um universo em duas
camadas conectadas por uma escada cósmica. Para os maias, no começo, havia
apenas o céu, o mar e criador, esse após várias tentativas fracassadas,
conseguiu criar pessoas a partir do milho e da chuva. No antigo testamento, a
terra está em conexão com o firmamento, às águas acima do firmamento, às fontes
do abismo, ao limbo e à casa dos ventos. “No princípio criou Deus os céus e a
terra, e a terra era sem forma e vazia, e havia trevas sobre a face do abismo,
e o espírito de Deus se movia sobre a face das águas”.
Há
2.400 anos, os gregos já haviam desenvolvido sofisticados métodos geométricos.
Não foi por acaso, que eles propuseram uma cosmogonia mais elaborada do que a
ideia de um universo plano. Um universo esférico, juntamente com uma terra
esférica, circundados por objetos celestes que descreviam órbitas geométricas
previsíveis. Esses movimentos valiam também para as estrelas fixas na abóboda
celeste.
Um
primeiro modelo geocêntrico foi proposto pelo astrônomo Eudoxus de Cnidus, mas
seu modelo sofreu diversos aperfeiçoamentos, um deles proposto por Aristóteles
que demonstrou em sua obra “sobre os céus”,
que a terra era redonda. Ele chegou a essa conclusão, a partir da observação da
sombra que se projetou durante um eclipse lunar. O modelo geocêntrico de
Aristóteles era composto de 49 esferas concêntricas que explicavam os
movimentos de todos os corpos celestes. A esfera mais externa era a das
estrelas fixas que controlava todas as esferas internas. Já Eratóstenes mediu a
circunferência da terra obtendo um valor de 15% maior do que o valor real, e
Ptolomeu no segundo século 2 a.C., modificou o modelo aristotélico, e
introduziu os epiciclos, onde os planetas descreviam movimentos de pequenos
círculos que se moviam sobre círculos maiores, esses centrados na terra.
A
ideia de que o sol está no centro do universo, e de que a terra gira em torno
dele, já havia sido proposta por Aristarco de Samos. Ele propôs essa teoria com
base nos tamanhos e distâncias do sol e da lua. Concluiu então, que a terra
gira em torno do sol e que as estrelas formariam uma esfera fixa, muito
distante. Mas essa teoria atraiu pouca atenção, porque contradizia o
geocentrismo aristotélico, e também porque a ideia de que a terra está em
movimento não era muito atraente.
Dois
mil anos mais tarde, Copérnico descreveu seu modelo heliocêntrico: “o sol é o
centro do universo e não a terra”, em sua obra “commentariolus”, que circulou anonimamente. No século 16, o
astrônomo dinamarquês Tycho Brahe, fez grandes avanços nas técnicas de medidas
precisas com instrumentos a olho nu, pois lunetas e telescópios, ainda não
haviam sido inventados. Essas medidas eram 10 vezes mais precisas, do que as
medidas anteriores. Em 1597, ele se mudou para Praga, onde contratou em 1600 Johannes
Kepler, como seu assistente. Kepler usou
as medidas de Tycho para estabelecer suas leis de movimentos planetários. Essas
leis mostravam que as órbitas que os planetas descreviam, eram elipses, tendo o
sol em um dos focos.
Ao
longo do século 17, Galileu ao apontar sua luneta para o sol, descobriu manchas
solares; apontando para júpiter, descobriu suas quatro primeiras luas, e ao
olhar para a via láctea, mostrou que ela é composta por bilhões e bilhões de estrelas.
“Há mais estrelas no espaço, do que grãos de areia na terra”. (cosmos, de Carl Sagan).
Uma
das primeiras concepções consistentes sobre a natureza das galáxias foi feita
por Immanuel Kant. Aos 26 anos, tomou contato com os pensamentos de Newton e
desenvolveu a ideia de que o sistema solar, teria se originado a partir da
condensação de um disco de gás. Elucidou também a ideia de que o sistema solar
faz parte de uma estrutura achatada conhecida hoje como galáxias, e de que
muitas das nebulosas então observadas como manchas difusas são sistemas
semelhantes, as quais ele denominou de Universos-Ilhas.
Joannes
de Sacrobosco, contemporâneo de Tomás de Aquino, em sua obra “tractatus de sphaera mundi”, de 1473,
afirma ser a terra uma esfera. O “líber
chronicarun” de 1493, também elucida sobre uma terra esférica. O livro “columbus”, escrito pelo historiador
Irving em 1828, descreve que Cristovão Colombo, foi acusado de heresia por
sustentar que a terra era redonda. O mestre de Aristóteles, Platão, também
sustentou a forma esférica da terra. Escreveu ele em seu “Fédon”: “minha convicção é de que a terra é um corpo circular no
centro de vários céus”. Santo Agostinho em seu “de civitate dei”, também escreveu que a terra era redonda. “sobre a
posição da terra e da maneira de seu repouso ou movimento, nossa discussão
finda-se. Sua forma deve ser necessariamente esférica”. (Aristóteles, sobre os céus).
Mas,
nem sempre, a forma circular da terra esteve em voga. Alguns eruditos
acreditavam ser a terra plana, achatada como um prato. Em 394, Deodoro de Tarsus,
defendeu a ideia de uma terra plana, bem como Theodoro de Mopsuestia. Em 380
escreveu Gabala: “deve ser a terra plana”. Tais teorias não são de crível
admiração, já que no mundo existem cientistas de alta estirpe que acreditam que
todo universo cósmico, toda essa aglomeração e complexidade, surgiram
simplesmente do nada, como um piscar de olhos, que cada dia de luta ou de glória
é simplesmente obra do acaso, e que milhões e milhões de anos de história da
vida, existem sem motivo algum. Que audácia contradizer um Galileu ou um Descartes
e tantos outros que eu poderia citar em uma lista infindável. Em minha opinião,
um relógio precisa de um relojoeiro.
Contemplando
o mundo e o céu observável, os homens enxergaram coisas estranhas como os
cometas. Os cometas sempre despertaram o medo, presságios e superstições; suas
aparições ocasionais desafiavam a noção de um universo ou mundo ordenado e
imutável. Os cometas eram arautos de desastres e iras de Deus; prevendo a morte
de príncipes e a queda de reinados. Os babilônicos pensavam que os cometas eram
barbas celestiais, os gregos, que eram cabelos flutuantes, e os árabes pensavam
que eram espadas flamejantes. Na época de Ptolomeu, os cometas eram
classificados de acordo com o seu tamanho e Ptolomeu acreditava que eles
traziam guerras, temperaturas quentes e perturbações.
Na
idade média, alguns cometas eram identificados como crucifixos voadores. O bispo
luterano de Magdeburg, Andreas Celichius, publicou em 1578, um aviso teológico
sobre os cometas, onde dizia que o tamanho deles era de acordo com os pecados
humanos. Em 1066, os normandos testemunharam a passagem de um cometa,
provavelmente o cometa Halley. Em 66, o historiador Flávio Josefo também
registrou um cometa. Em 1301, o pintor italiano Giotto, reproduziu um cometa no
topo de um presépio. Para Kepler, os cometas zuniam nos céus, como peixes nas
águas, e para David Hume, os cometas eram óvulos de sistemas planetários.
Na
cosmologia medieval, não existiam continentes, nem oceanos e a imagem que se
tinha do mundo, era a de uma ilha. O mundo era cercado por um oceano vazio,
profundo, escuro e contrário a natureza humana, habitat de monstros. “desde
tempos muito antigos, sustentou-se que, nesta vida, o mundo é confinado
exclusivamente à terra. Desde que o corpo humano era pensado como sendo em
essência, nada mais que terra! A terra era seu elemento apropriado”. (O’Gorman,
1961).
Com
Colombo é que surgem outros mundos em nosso planeta, também habitáveis e de
fato habitados por outros homens. Nicolau de Oresne, em seu “tratado do céu e do mundo”, de 1377,
escreveu: “Deus age segundo os princípios da razão. Para além do céu, existe um
espaço indefinido, incorpóreo, indivisível, que nada mais é senão, o próprio
Deus. A imensidade de Deus, intemporal e indivisível”. Para Guilherme de Occam,
os astros são movidos, cada um por uma inteligência divina; e para Giordano Bruno,
o universo era habitado por várias civilizações, por causa disso, a inquisição
que achava conhecer as vontades de Deus, o queimou em praça pública com piche.
Na
mitologia grega, Zeus colocou Sísifus, a rolar uma pedra para todo o sempre.
Entre os filisteus, quando havia seca, era porque Baal não estava muito
contente, então iam para os templos sacrificarem crianças. De seu filho, Cronus
comeu a cabeça e Manassés os passou pelo fogo. Na destruição de Sodoma e
Gomorra, a mulher de Ló olhou para trás e virou uma estátua de sal. Davi
conquistou Mical, dando a seu pai Saul, um saco de prepúcios; entre os
bárbaros, o saco não foi de prepúcios, mas de 500 orelhas. Em Roma os
julgamentos eram uma constante, tanto que certa vez, até um cachorro foi para o
banco dos réus. Na mesma Roma, Petrônio cortou os pulsos em forma de protesto.
Na Grécia, Diógenes Laércio, andou em plena luz do dia, com uma lamparina nas
mãos, perguntando: “aonde estão os homens de verdade?”; e 300 anos
antes de Aristóteles, Isaias já afirmava a redondeza da terra: “ele é o que
está assentado sobre o círculo da terra”.
Júlio
César em seu “de bello gallico”,
explica como organizou e lançou a horda de bandidos gauleses e germânicos contra
o povo Eburone, culpada de não querer se sujeitar ao seu império; o futuro
imperador, depois narra com certo prazer, como conseguiu aplicar toda espécie
de infâmias, traições e armadilhas, até eliminar definitivamente da face da
terra, a raça dos Eburones. Foi o primeiro comandante a matar todos os
habitantes de uma cidade, incluindo crianças e mulheres.
Por
séculos, os romanos se alegraram vendo prisioneiros de guerra, lutando entre si
nos circos. Em um único mês, o imperador Diocleciano, fez 40 mil homens se
matarem no coliseu, mais de mil por dia, enquanto uma multidão exaltada bebia
vinho com mel e chumbo, fumavam ópio e copulavam com prostitutas. A quantidade
de sangue e de órgãos esquartejados, não os incomodava, e em parte era coberto,
pelo fedor de vômito, já que os romanos, para continuar se enchendo de comidas
e bebidas, tinham o hábito de enfiar dois dedos na garganta para vomitar o que
acabavam de ingerir.
Na
idade média, os cruzados que achavam lutar em nome de Deus, não eram brilhantes
em termos de disciplina e organização. Seus acampamentos eram erguidos sem
nenhum cuidado estrutural, e a cada chuva, suas barracas eram carregadas pelo
vento e misturadas às urinas. Sem esquecer a grande quantidade de prostitutas
que os seguiam. Muitos cruzados não tomavam mais que dois banhos por ano;
enchiam-se de carne de porco assada ou salgada e se embebedavam da manhã até a
noite. Deus não estava com eles, e os castigou, matando vários de cólera,
infecção gastrointestinal e doenças venéreas, locais e exóticas.
Pelos
anos de 1480 à 1520, as grandes ondas repressivas contra bruxas e hereges
começaram. A tortura mais branda eram as chibatadas. Depois havia um suplício
chamado “a corda”, onde a acusada tinha os braços amarrados com um laço, a
vítima então era içada, provocando o deslocamento de seu ombro.
Outro
castigo era o “cavalo de estiramento”. O corpo da torturada era deitado e
amarrado a uma ponta que lhe penetrava as carnes do pescoço até o glúteo,
puxando as cordas, todo o corpo era esticado, e os membros após algumas horas
soltavam-se do corpo. Não eram raros os casos de mulheres mortas ou estropiadas
de forma irreversível em razão das torturas sofridas.
Lê-se
muito claramente na obra “história
eclesiástica” de Eusébio de Cesáreia, sobre os mártires do Egito, que eram
crucificados de cabeça para baixo, como aconteceu com o apóstolo Pedro, e assim
deixados até morrerem. Na Via Áppia, a tão famosa estrada romana, os
crucificados ficavam ali, morrendo de insolação, frio, fome e sede; assim
morreram, Espartacus e seu exército, e na mesma Via Áppia. Na renascença esse
suplício ganhou o nome de “gaiola”, pois o sujeito era colocado dentro de uma
armação de metal, e ali ficava exposto aos passantes até a sequidão o vencer e
ele morrer. Na idade média, quem fosse canhoto tinha a mão decepada, o mesmo
acontecia com os padeiros que não colocavam a quantidade certa de fermento nos
pães; e na mesma idade média, quem tivesse algum desafeto, era dado-lhe o
direito de resolver com as próprias mãos.
Muito
se diz a respeito do mundo, mas, pouco se sabe da verdade. O universo se
elastece a cada minuto e 90% dele ainda é um mistério para todos nós. O mundo,
o universo e a história, são realmente esse emaranhado de coisas, dissonâncias
e contrastes. Alguns se acham privilegiados por viverem essa vida, pertencerem
a este mundo, outros nem tanto, alguns já realizaram seus sonhos, outros ainda
não. Mas, todos caminham em uma mesma direção, ainda que alguns se percam.
“De que serviria o preço na mão do tolo para comprar a
sabedoria, visto que não tem entendimento?” (Provérbios
17:16).
“Se o senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela”
(Salmo 127).
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