O
Mundo Pelo Buraco Da Fechadura
“O que foi que viste no
sombrio passado, e no abismo do tempo?”. (William Shakespeare – A Tempestade).
“Se o homem fosse retirado
do mundo, todo o resto pareceria extraviado, sem fim ou propósito, não levando
a lugar nenhum”. (Francis Bacon – A
sabedoria dos antigos, 1619).
“Eles viajaram durante longo
tempo e nada encontraram. Por fim, discerniram uma pequena luz, que era da
terra; mas, não tinham a menor razão para suspeitar que nós e nossos
companheiros, cidadãos deste globo, temos a honra de existir”. (Voltaire – Micrômegas, uma história filosófica,
1752).
“Gotas de luar sacudidas do
bico de uma garça”. (tribo dos Dógons).
O filosófo grego Xenófanes
por volta do século seis a.c, escreveu: “Os etíopes atribuem a seus deuses,
pele preta e nariz arrebitado; os Trácios dizem que os seus deuses têm olhos
azuis e cabelos vermelhos... sim, e se os bois, os cavalos ou os leões tivessem
mãos, pudessem pintar e reproduzir obras de arte como os homens, os cavalos
pintariam os deuses sob a forma de cavalos, e os bois lhes dariam a forma de
bois”. Herman Melville em seu “Moby Dick”,
falou pelos errantes de todas as épocas e meridianos: “Sou atormentado por um
desejo constante pelo que é remoto. Gosto de navegar em mares proibidos”. Para
os antigos gregos e romanos, o mundo conhecido compreendia a Europa e reduzidas
áreas africanas e asiáticas, tudo circundado por um intransponível oceano do
mundo.
Os viajantes poderiam
encontrar seres inferiores chamados bárbaros, ou seres superiores chamados
deuses. Toda região tinha o seu herói lendário. À medida que o tempo passou,
certas coisas foram trazidas à luz: os bárbaros eram tão inteligentes quanto
gregos e romanos; a África e a Ásia eram maiores do que se tinha imaginado, e
haviam homens com olhos no peito e pés virados: os antípodas. Existiam agora
três novos continentes, ocupados pelos asiáticos em eras passadas, sem que a notícia
jamais tivesse chegado à Europa.
A primeira grande migração
humana do velho mundo para o novo mundo, ocorreu durante a última era glacial,
há cerca de 11.500 anos atrás, quando as calotas polares aumentaram, deixando
rasos os oceanos e permitindo caminhar sobre terra seca da Sibéria para o
Alasca.
Mil anos mais tarde,
estávamos na terra do fogo, extremidade meridional da América do Sul. Muito
antes de Colombo, argonautas indonésios em canoas de madeira reforçada, exploraram
o pacífico ocidental; habitantes de Bornéu, povoaram Madagascar; egípcios e
líbios, circunavegaram a África e uma grande frota de juncos adaptados para
navegação marítima, partindo da China da dinastia Ming, passeou pelo Índico, estabeleceu
uma base em Zanzibar, dobrou o cabo da Boa Esperança e entrou no Oceano
Atlântico.
Do século 15 ao 17, as naus
européias descobriram novos continentes e circunavegaram o planeta. Nos séculos
18 e 19, exploradores, mercadores e colonizadores norte-americanos e russos,
foram para o oeste e para leste, atravessando dois imensos continentes.
“A meio caminho entre Tera e
Terasia, labaredas irrompem do mar e continuam a queimar por quatro dias,
fazendo todo o mar ferver e arder em chamas, e as chamas moldaram uma ilha que
foi erguida aos poucos como se por alavancas. Depois que a erupção passou, os
habitantes de Rhodes, então no período de sua supremacia marítima, foram os
primeiros que se aventuraram a visitar o local, erigindo na ilha um templo”.
(Estrabão – Geographia, 7 a.c).
Os bosquímanos do deserto
kalahari, chamavam a via láctea de espinha dorsal da noite, como se o céu fosse
um animal de grande porte no qual vivemos. As grandes civilizações do
Mediterrâneo, e as grandes culturas do Egito e Mesopotâmia, sempre criaram seus
deuses para explicar a essência das coisas e a origem do universo. O Marduk
babilônico e o Zeus grego eram na verdade, o mesmo deus. Nos tempos de
Aristóteles e Anaxágoras, por exemplo, acreditava-se que o sol e a lua eram
deuses. O poeta grego Homero, escreveu sobre deuses no céu e na terra, sobre
submundos, o fogo, o tempo, amores e guerras. Então, em 2500 a.c, em Samos,
apareceram pessoas que acreditavam que tudo era feito de átomos, que os seres
humanos e outros animais, vinham de formas mais simples; que as doenças eram
causadas por demônios ou deuses; que a terra era um planeta que girava ao redor
do sol e que as estrelas estavam muito distantes de nós.
Para o poeta Hesíodo o caos
originou a tudo. Em sua obra Teogonia,
ele criou uma deusa chamada noite, e juntos criaram deuses e homens. Mas, no
século 6 a.c, os jônicos desenvolveram uma nova ideia a respeito da essência
das coisas. Para eles, as coisas tinham uma ordem interna e a natureza não era
tão imprevisível assim. Alguns dos mais brilhantes pensadores foram jônicos, filhos
de marinheiros, agricultores e tecelões, usados para escavar e fazer reparos.
Daí a afirmação de Anaxágoras: “O homem pensa por que tem mãos”.
O primeiro cientista jônico
foi Tales de Mileto. Mileto era uma
cidade asiática, separada por um estreito canal de água da ilha de Samos. Ele
tinha viajado para o Egito, e tomado conhecimento dos babilônicos. Mediu a
altura de uma pirâmide a partir do comprimento de sua sombra e do ângulo do sol
sobre o horizonte. Foi o primeiro a demonstrar teoremas geométricos, coisa que
Euclides faria 300 anos mais tarde. Ele definiu que os ângulos da base de um
triângulo isósceles, são iguais. O mundo agora era compreendido sem a
intervenção dos deuses. Como os babilônicos, Tales acreditava que o mundo havia
surgido da água. Segundo uma história, conta-se que Tales olhando para os céus,
previu que no inverno do ano seguinte, a colheita de azeitonas, seria
excelente.
Anaximandro era amigo e
colega de Tales. Foi o primeiro grego que construiu um relógio de sol, usando
uma vareta fincada no chão, um mapa do mundo conhecido e um globo celeste,
mostrando as formas das constelações. Para ele, o sol, a lua e as estrelas,
eram feitas de fogo, e seus movimentos se faziam através de orifícios na cúpula
do céu. Para ele a terra estava suspensa no céu, ao centro do universo.
Anaximandro concluiu que os seres humanos vieram de animais cujos filhos nascem
mais resistentes. Ele propôs a origem espontânea da vida na lama, sendo os
peixes, os primeiros animais cobertos de espinhos, esses deixados na água,
penetraram o continente e evoluíram transmutando de uma forma para outra.
Acreditava ele também em vários mundos habitados pelo espaço afora.
Polícrates era um tirano da
ilha de Samos; patrocinou as artes, a ciência e a engenharia, mas, oprimiu seu
povo com guerras e tiranias. Temendo uma invasão, cercou sua capital com uma
grande muralha de 4 km de comprimento; construiu um grande túnel para levar
água de uma fonte distante, através das fortificações; levou 15 anos para ser
concluído. A mão de obra eram escravos acorrentados, muitos capturados pelos
navios piratas de Polícrates. Essa era a época de Teodoro, o engenheiro mestre
da época, a quem os gregos atribuem a invenção da régua, do volume de fundição
em bronze e do aquecimento central.
Pela mesma época, na vizinha
ilha de Cós, Hipócrates fundaria seu centro médico e escreveria que os homens
acreditavam que a epilepsia era divina. Empédocles, por volta de 450 a.c,
acreditava que a luz viajava em altas velocidades. Ele ensinava que no passado
tinha existido uma variedade muito maior de seres vivos na terra, mas muitas
raças foram incapazes de gerar e continuarem a sua espécie. Antecipou em alguns
aspectos a teoria de Darwin, da evolução pela seleção natural. Foi o primeiro a
fazer experiências com a clepsidra, provando que o ar era consistente. Indagou
ele: “Deve haver alguma substância material que bloqueia a água, e isso só pode
ser o ar”. Dizem que Empédocles que se autodenominava um deus, morreu ao cair
no vulcão Etna.
Na colônia jônica de Abdera,
surge Demócrito. Demócrito achava que os mundos colidiam uns nos outros e que
alguns mundos vagavam sozinhos na escuridão do espaço, enquanto outros eram
acompanhados por vários sóis e várias luas. Acreditava que alguns mundos eram
habitados, enquanto outros não tinham plantas, animais, água, nem a mais
simples forma de vida. Foi ele quem inventou a palavra átomo, que em grego
significa “o que não se corta”. Dizia ele que tudo era feito desses átomos,
partículas finas e intrinsecamente ligadas. Thomas Wright em 1750, escreveu que
ficou admirado ao saber que Demócrito acreditava que a via láctea, consistia
num aglomerado de estrelas e matéria. Disse Demócrito, que a vida sem alegria,
era uma longa estrada sem hospedaria. Para ele, tudo que existe são átomos e
vazios, e por causa de suas ideias, chegou a ser perseguido.
Anaxágoras foi um
experimentalista jônico, que viveu em Atenas. Era um homem rico e apaixonado
pela ciência. Quando perguntado qual era o propósito de sua vida, respondeu que
era, investigar o sol, a lua, as estrelas e os céus. Disse em um experimento,
que um líquido branco, não pode clarear dentro de um jarro um líquido escuro.
Acreditava em uma substancia mental especial, e negou a existência dos átomos.
Para ele, os homens eram mais inteligentes que os animais, porque possuíam
mãos. Afirmou que a lua brilha por causa do reflexo do sol, concebendo assim,
as fases da lua; também afirmou que o sol era muito maior que Peloponeso. Foi
condenado e preso por crime religioso, ao afirmar que a lua era composta de
matéria comum e que o sol era uma pedra vermelha no céu. O general Péricles o
trouxe para Atenas; Péricles amava a filosofia e a ciência, mas, levantou a
guerra de Peloponeso que destruiu a democracia ateniense. Anaxágoras era seu
confidente pessoal.
Pitágoras chegou a viver
numa caverna no monte Kerkis e foi um dos primeiros pensadores a afirmar que a
terra era uma esfera. Foi o primeiro a usar o termo cosmos para indicar um
universo bem ordenado e harmonioso, um mundo capaz de ser entendido pelo homem.
Pitágoras ensinou que as leis da natureza, poderiam ser deduzidas pelo
pensamento puro. Era um universo em que os triângulos retângulos, obedeciam a
perfeitas relações matemáticas. Os pitagóricos acreditavam que para uma área
ser perfeita, os pontos de sua superfície, deveriam todos partirem de seu
centro. Os círculos para eles eram perfeitos, e por isso acreditavam que os
planetas se moviam por caminhos circulares. O movimento não circular era um
movimento defeituoso, impróprio para o movimento da terra, que era considerada
perfeita.
Os platônicos e seus
sucessores cristãos, tinham a noção peculiar de que a terra era imperfeita e
repugnante, enquanto os céus eram perfeitos e divinos. A ideia de que a terra
era um planeta, e de que somos cidadãos do universo, foi por um tempo
esquecida, até surgir Aristarco de Samos. Nascido em Samos 3 séculos depois de
Pitágoras, Aristarco foi um dos últimos cientistas jônicos. Foi o primeiro a
dizer que o centro do sistema planetário era o sol e não a terra; e que todos
os planetas orbitam o sol. Assim como Anaxágoras, Aristarco foi desacreditado e
perseguido, por colocar a terra girando sobre seu próprio eixo.
No nosso mundo, os fósseis
mais antigos, têm cerca de 3,6 bilhões de anos. A cerca de 4,2 ou 4,3 bilhões
de anos, a terra estava sendo tão abalada pelos estágios finais de sua
formação, que a vida ainda não poderia ter aparecido. Grandes colisões fundiam
a superfície terrestre, transformando os oceanos em vapor e impelindo para o
espaço, toda a atmosfera acumulada desde o último impacto. Assim, a
aproximadamente 4 bilhões de anos, ouve um espaço talvez de 100 bilhões de
anos, em que surgiram os nossos antepassados mais antigos, sendo as primeiras
coisas vivas ineptas à este mundo.
Lê-se nas sagradas
escrituras, mais precisamente no livro de Jó, sobre os homens primitivos: “De
míngua e fome se debilitaram, e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos,
assolados e desertos. Apanhavam malvas junto aos arbustos e o seu mantimento
eram raízes de zimbro. Do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra
eles, como contra um ladrão), para habitarem nos barrancos dos vales e nas
cavernas da terra e das rochas. Bramavam entre os arbustos e ajuntavam-se
debaixo das urtigas. Eram filhos de doidos e filhos de gente sem nome e da
terra eram expulsos”. (Livro de Jó
30:3 – 8).
Os nossos antepassados
viviam ao ar livre, e sua familiaridade com o céu era muito evidente. O sol, a
lua, as estrelas e os planetas, nasciam no leste e morriam no oeste, cruzando o
alto céu nesse meio tempo. O movimento dos corpos celestes, não era
simplesmente uma diversão, era a maneira pela qual eles reconheciam as horas do
dia e as estações do ano. Para os caçadores e povos agrícolas, conhecer o céu
era uma questão de vida ou morte.
No segundo século antes de
Cristo, Ptolomeu sabia que a terra era uma esfera, sabia que a terra comparada à
distância das estrelas, era como um mísero ponto e ensinou que ela estava no
centro do céu. Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Tomás de Aquino e quase
todos os grandes filósofos, acreditaram ser a terra o centro do universo, e
acreditaram nisso por quase três mil anos. Daí em diante, foi um passo para se
compreender que a perfeição do mundo, seria incompleta sem os seres humanos,
como Platão afirmaria em seu livro “Timeu”:
“O homem é tudo”. O clérigo John Donne em 1625 escreveu: “O homem não é uma
parte do mundo, mas, o próprio mundo. Ele está abaixo da glória de Deus que é a
razão da existência do mundo”.
Na aurora da ciência, os
filósofos atomistas gregos e romanos, sugeriram pela primeira vez, que a
matéria era feita de átomos. Demócrito, Epicuro e Lucrécio, propuseram a
existência de vários mundos, todos constituídos pela mesma espécie de átomos de
que somos feitos. Mas, os cânones predominantes do ocidente, sacerdotais,
pagãos e cristãos, atacaram as ideias atomistas. Ao contrário do que
professavam, os céus não eram parecidos com o nosso mundo, eram inalteráveis e
perfeitos; a terra no entanto, era mutável. O filosofo romano Cícero, resumiu a
opinião comum: “Nos céus não há sorte ou acaso, nem erro ou frustração, mas uma
ordem absoluta, exatidão, cálculo e regularidade”.
A partir de Copérnico, da
metade do século 16 em diante, era considerado perigoso imaginar que o sol e
não a terra, estava no centro do universo. “Não há perigo nenhum nisso”.
Escreveu Robert Cardinal Bellarmine, o principal teólogo do vaticano no início
do século 17, “e satisfaz os matemáticos. Mas, afirmar que o sol está na
verdade no centro dos céus e que a terra gira rapidamente ao redor dele é
perigoso, pois não só irrita os teólogos e filósofos, como ofende a santa fé, e
torna falsa a sagrada escritura”.
Além disso, se a terra
girasse ao redor do sol, as estrelas próximas dariam a impressão de se moverem
contra o pano de fundo das estrelas mais distantes, sempre que a cada seis
meses deslocássemos nossa perspectiva de um lado da órbita da terra para o
outro. Não se havia descoberto nenhuma paralaxe anual desse tipo. Os
copernicanos argumentavam que isso se devia ao fato de as estrelas estarem
extremamente longe; talvez 1 milhão de vezes mais distantes do que a terra está
do sol. Os adeptos do geocentrismo, consideravam esse argumento uma tentativa
desesperada de salvar uma teoria falha.
Quando Galileu apontou seu
telescópio para o céu, descobriu que júpiter tinha um pequeno séquito de luas,
descrevendo órbitas ao seu redor; as mais próximas girando mais rápido do que
as mais afastadas, exatamente como Copérnico tinha concluído a respeito do
movimento dos planetas ao redor do sol. Observou que mercúrio e Vênus, passavam
por fases como a lua (indicando que eles giravam ao redor do sol). Além disso,
a lua cheia de crateras e o sol coberto de manchas, desafiavam a perfeição dos
céus. Este pode ter sido o problema que preocupava Tertuliano, uns 1.300 anos
antes quando pedia: “Se você tem algum tino ou decoro, pare de sondar as
regiões do céu, o destino e os grandes segredos do universo”.
“Os que descem ao mar em
navios, mercando nas grandes águas, esses vêem as obras do senhor e as suas
maravilhas no profundo. Pois ele manda, e se levanta o vento tempestuoso que
eleva as suas ondas. Sobem os céus, descem aos abismos, e a sua alma se derrete
em angústias. Então clamam ao senhor, e ele os livra das suas dificuldades. Faz
cessar a tormenta e acalmam-se as suas ondas, então se alegram, porque se aquietaram,
assim os leva ao seu porto desejado” (Salmos
107, 23-30, cerca do ano 150 antes de Cristo).
“Vós sois de baixo, eu sou
de cima, vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”. (João 8:23).
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