quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O MUNDO PELO BURACO DA FECHADURA


O Mundo Pelo Buraco Da Fechadura
 
“O que foi que viste no sombrio passado, e no abismo do tempo?”. (William Shakespeare – A Tempestade).
 
“Se o homem fosse retirado do mundo, todo o resto pareceria extraviado, sem fim ou propósito, não levando a lugar nenhum”. (Francis Bacon – A sabedoria dos antigos, 1619).
 
“Eles viajaram durante longo tempo e nada encontraram. Por fim, discerniram uma pequena luz, que era da terra; mas, não tinham a menor razão para suspeitar que nós e nossos companheiros, cidadãos deste globo, temos a honra de existir”. (Voltaire – Micrômegas, uma história filosófica, 1752).
 
“Gotas de luar sacudidas do bico de uma garça”. (tribo dos Dógons).
 
O filosófo grego Xenófanes por volta do século seis a.c, escreveu: “Os etíopes atribuem a seus deuses, pele preta e nariz arrebitado; os Trácios dizem que os seus deuses têm olhos azuis e cabelos vermelhos... sim, e se os bois, os cavalos ou os leões tivessem mãos, pudessem pintar e reproduzir obras de arte como os homens, os cavalos pintariam os deuses sob a forma de cavalos, e os bois lhes dariam a forma de bois”. Herman Melville em seu “Moby Dick”, falou pelos errantes de todas as épocas e meridianos: “Sou atormentado por um desejo constante pelo que é remoto. Gosto de navegar em mares proibidos”. Para os antigos gregos e romanos, o mundo conhecido compreendia a Europa e reduzidas áreas africanas e asiáticas, tudo circundado por um intransponível oceano do mundo.
Os viajantes poderiam encontrar seres inferiores chamados bárbaros, ou seres superiores chamados deuses. Toda região tinha o seu herói lendário. À medida que o tempo passou, certas coisas foram trazidas à luz: os bárbaros eram tão inteligentes quanto gregos e romanos; a África e a Ásia eram maiores do que se tinha imaginado, e haviam homens com olhos no peito e pés virados: os antípodas. Existiam agora três novos continentes, ocupados pelos asiáticos em eras passadas, sem que a notícia jamais tivesse chegado à Europa.
A primeira grande migração humana do velho mundo para o novo mundo, ocorreu durante a última era glacial, há cerca de 11.500 anos atrás, quando as calotas polares aumentaram, deixando rasos os oceanos e permitindo caminhar sobre terra seca da Sibéria para o Alasca.
Mil anos mais tarde, estávamos na terra do fogo, extremidade meridional da América do Sul. Muito antes de Colombo, argonautas indonésios em canoas de madeira reforçada, exploraram o pacífico ocidental; habitantes de Bornéu, povoaram Madagascar; egípcios e líbios, circunavegaram a África e uma grande frota de juncos adaptados para navegação marítima, partindo da China da dinastia Ming, passeou pelo Índico, estabeleceu uma base em Zanzibar, dobrou o cabo da Boa Esperança e entrou no Oceano Atlântico.
Do século 15 ao 17, as naus européias descobriram novos continentes e circunavegaram o planeta. Nos séculos 18 e 19, exploradores, mercadores e colonizadores norte-americanos e russos, foram para o oeste e para leste, atravessando dois imensos continentes.
“A meio caminho entre Tera e Terasia, labaredas irrompem do mar e continuam a queimar por quatro dias, fazendo todo o mar ferver e arder em chamas, e as chamas moldaram uma ilha que foi erguida aos poucos como se por alavancas. Depois que a erupção passou, os habitantes de Rhodes, então no período de sua supremacia marítima, foram os primeiros que se aventuraram a visitar o local, erigindo na ilha um templo”. (Estrabão – Geographia, 7 a.c).
Os bosquímanos do deserto kalahari, chamavam a via láctea de espinha dorsal da noite, como se o céu fosse um animal de grande porte no qual vivemos. As grandes civilizações do Mediterrâneo, e as grandes culturas do Egito e Mesopotâmia, sempre criaram seus deuses para explicar a essência das coisas e a origem do universo. O Marduk babilônico e o Zeus grego eram na verdade, o mesmo deus. Nos tempos de Aristóteles e Anaxágoras, por exemplo, acreditava-se que o sol e a lua eram deuses. O poeta grego Homero, escreveu sobre deuses no céu e na terra, sobre submundos, o fogo, o tempo, amores e guerras. Então, em 2500 a.c, em Samos, apareceram pessoas que acreditavam que tudo era feito de átomos, que os seres humanos e outros animais, vinham de formas mais simples; que as doenças eram causadas por demônios ou deuses; que a terra era um planeta que girava ao redor do sol e que as estrelas estavam muito distantes de nós.
Para o poeta Hesíodo o caos originou a tudo. Em sua obra Teogonia, ele criou uma deusa chamada noite, e juntos criaram deuses e homens. Mas, no século 6 a.c, os jônicos desenvolveram uma nova ideia a respeito da essência das coisas. Para eles, as coisas tinham uma ordem interna e a natureza não era tão imprevisível assim. Alguns dos mais brilhantes pensadores foram jônicos, filhos de marinheiros, agricultores e tecelões, usados para escavar e fazer reparos. Daí a afirmação de Anaxágoras: “O homem pensa por que tem mãos”.
O primeiro cientista jônico foi Tales de Mileto.  Mileto era uma cidade asiática, separada por um estreito canal de água da ilha de Samos. Ele tinha viajado para o Egito, e tomado conhecimento dos babilônicos. Mediu a altura de uma pirâmide a partir do comprimento de sua sombra e do ângulo do sol sobre o horizonte. Foi o primeiro a demonstrar teoremas geométricos, coisa que Euclides faria 300 anos mais tarde. Ele definiu que os ângulos da base de um triângulo isósceles, são iguais. O mundo agora era compreendido sem a intervenção dos deuses. Como os babilônicos, Tales acreditava que o mundo havia surgido da água. Segundo uma história, conta-se que Tales olhando para os céus, previu que no inverno do ano seguinte, a colheita de azeitonas, seria excelente.
Anaximandro era amigo e colega de Tales. Foi o primeiro grego que construiu um relógio de sol, usando uma vareta fincada no chão, um mapa do mundo conhecido e um globo celeste, mostrando as formas das constelações. Para ele, o sol, a lua e as estrelas, eram feitas de fogo, e seus movimentos se faziam através de orifícios na cúpula do céu. Para ele a terra estava suspensa no céu, ao centro do universo. Anaximandro concluiu que os seres humanos vieram de animais cujos filhos nascem mais resistentes. Ele propôs a origem espontânea da vida na lama, sendo os peixes, os primeiros animais cobertos de espinhos, esses deixados na água, penetraram o continente e evoluíram transmutando de uma forma para outra. Acreditava ele também em vários mundos habitados pelo espaço afora.
Polícrates era um tirano da ilha de Samos; patrocinou as artes, a ciência e a engenharia, mas, oprimiu seu povo com guerras e tiranias. Temendo uma invasão, cercou sua capital com uma grande muralha de 4 km de comprimento; construiu um grande túnel para levar água de uma fonte distante, através das fortificações; levou 15 anos para ser concluído. A mão de obra eram escravos acorrentados, muitos capturados pelos navios piratas de Polícrates. Essa era a época de Teodoro, o engenheiro mestre da época, a quem os gregos atribuem a invenção da régua, do volume de fundição em bronze e do aquecimento central.
Pela mesma época, na vizinha ilha de Cós, Hipócrates fundaria seu centro médico e escreveria que os homens acreditavam que a epilepsia era divina. Empédocles, por volta de 450 a.c, acreditava que a luz viajava em altas velocidades. Ele ensinava que no passado tinha existido uma variedade muito maior de seres vivos na terra, mas muitas raças foram incapazes de gerar e continuarem a sua espécie. Antecipou em alguns aspectos a teoria de Darwin, da evolução pela seleção natural. Foi o primeiro a fazer experiências com a clepsidra, provando que o ar era consistente. Indagou ele: “Deve haver alguma substância material que bloqueia a água, e isso só pode ser o ar”. Dizem que Empédocles que se autodenominava um deus, morreu ao cair no vulcão Etna.
Na colônia jônica de Abdera, surge Demócrito. Demócrito achava que os mundos colidiam uns nos outros e que alguns mundos vagavam sozinhos na escuridão do espaço, enquanto outros eram acompanhados por vários sóis e várias luas. Acreditava que alguns mundos eram habitados, enquanto outros não tinham plantas, animais, água, nem a mais simples forma de vida. Foi ele quem inventou a palavra átomo, que em grego significa “o que não se corta”. Dizia ele que tudo era feito desses átomos, partículas finas e intrinsecamente ligadas. Thomas Wright em 1750, escreveu que ficou admirado ao saber que Demócrito acreditava que a via láctea, consistia num aglomerado de estrelas e matéria. Disse Demócrito, que a vida sem alegria, era uma longa estrada sem hospedaria. Para ele, tudo que existe são átomos e vazios, e por causa de suas ideias, chegou a ser perseguido.
Anaxágoras foi um experimentalista jônico, que viveu em Atenas. Era um homem rico e apaixonado pela ciência. Quando perguntado qual era o propósito de sua vida, respondeu que era, investigar o sol, a lua, as estrelas e os céus. Disse em um experimento, que um líquido branco, não pode clarear dentro de um jarro um líquido escuro. Acreditava em uma substancia mental especial, e negou a existência dos átomos. Para ele, os homens eram mais inteligentes que os animais, porque possuíam mãos. Afirmou que a lua brilha por causa do reflexo do sol, concebendo assim, as fases da lua; também afirmou que o sol era muito maior que Peloponeso. Foi condenado e preso por crime religioso, ao afirmar que a lua era composta de matéria comum e que o sol era uma pedra vermelha no céu. O general Péricles o trouxe para Atenas; Péricles amava a filosofia e a ciência, mas, levantou a guerra de Peloponeso que destruiu a democracia ateniense. Anaxágoras era seu confidente pessoal.
Pitágoras chegou a viver numa caverna no monte Kerkis e foi um dos primeiros pensadores a afirmar que a terra era uma esfera. Foi o primeiro a usar o termo cosmos para indicar um universo bem ordenado e harmonioso, um mundo capaz de ser entendido pelo homem. Pitágoras ensinou que as leis da natureza, poderiam ser deduzidas pelo pensamento puro. Era um universo em que os triângulos retângulos, obedeciam a perfeitas relações matemáticas. Os pitagóricos acreditavam que para uma área ser perfeita, os pontos de sua superfície, deveriam todos partirem de seu centro. Os círculos para eles eram perfeitos, e por isso acreditavam que os planetas se moviam por caminhos circulares. O movimento não circular era um movimento defeituoso, impróprio para o movimento da terra, que era considerada perfeita.
Os platônicos e seus sucessores cristãos, tinham a noção peculiar de que a terra era imperfeita e repugnante, enquanto os céus eram perfeitos e divinos. A ideia de que a terra era um planeta, e de que somos cidadãos do universo, foi por um tempo esquecida, até surgir Aristarco de Samos. Nascido em Samos 3 séculos depois de Pitágoras, Aristarco foi um dos últimos cientistas jônicos. Foi o primeiro a dizer que o centro do sistema planetário era o sol e não a terra; e que todos os planetas orbitam o sol. Assim como Anaxágoras, Aristarco foi desacreditado e perseguido, por colocar a terra girando sobre seu próprio eixo.
No nosso mundo, os fósseis mais antigos, têm cerca de 3,6 bilhões de anos. A cerca de 4,2 ou 4,3 bilhões de anos, a terra estava sendo tão abalada pelos estágios finais de sua formação, que a vida ainda não poderia ter aparecido. Grandes colisões fundiam a superfície terrestre, transformando os oceanos em vapor e impelindo para o espaço, toda a atmosfera acumulada desde o último impacto. Assim, a aproximadamente 4 bilhões de anos, ouve um espaço talvez de 100 bilhões de anos, em que surgiram os nossos antepassados mais antigos, sendo as primeiras coisas vivas ineptas à este mundo.
Lê-se nas sagradas escrituras, mais precisamente no livro de Jó, sobre os homens primitivos: “De míngua e fome se debilitaram, e recolhiam-se para os lugares secos, tenebrosos, assolados e desertos. Apanhavam malvas junto aos arbustos e o seu mantimento eram raízes de zimbro. Do meio dos homens eram expulsos (gritava-se contra eles, como contra um ladrão), para habitarem nos barrancos dos vales e nas cavernas da terra e das rochas. Bramavam entre os arbustos e ajuntavam-se debaixo das urtigas. Eram filhos de doidos e filhos de gente sem nome e da terra eram expulsos”. (Livro de Jó 30:3 – 8).
Os nossos antepassados viviam ao ar livre, e sua familiaridade com o céu era muito evidente. O sol, a lua, as estrelas e os planetas, nasciam no leste e morriam no oeste, cruzando o alto céu nesse meio tempo. O movimento dos corpos celestes, não era simplesmente uma diversão, era a maneira pela qual eles reconheciam as horas do dia e as estações do ano. Para os caçadores e povos agrícolas, conhecer o céu era uma questão de vida ou morte.
No segundo século antes de Cristo, Ptolomeu sabia que a terra era uma esfera, sabia que a terra comparada à distância das estrelas, era como um mísero ponto e ensinou que ela estava no centro do céu. Aristóteles, Platão, Santo Agostinho, Tomás de Aquino e quase todos os grandes filósofos, acreditaram ser a terra o centro do universo, e acreditaram nisso por quase três mil anos. Daí em diante, foi um passo para se compreender que a perfeição do mundo, seria incompleta sem os seres humanos, como Platão afirmaria em seu livro “Timeu”: “O homem é tudo”. O clérigo John Donne em 1625 escreveu: “O homem não é uma parte do mundo, mas, o próprio mundo. Ele está abaixo da glória de Deus que é a razão da existência do mundo”.
Na aurora da ciência, os filósofos atomistas gregos e romanos, sugeriram pela primeira vez, que a matéria era feita de átomos. Demócrito, Epicuro e Lucrécio, propuseram a existência de vários mundos, todos constituídos pela mesma espécie de átomos de que somos feitos. Mas, os cânones predominantes do ocidente, sacerdotais, pagãos e cristãos, atacaram as ideias atomistas. Ao contrário do que professavam, os céus não eram parecidos com o nosso mundo, eram inalteráveis e perfeitos; a terra no entanto, era mutável. O filosofo romano Cícero, resumiu a opinião comum: “Nos céus não há sorte ou acaso, nem erro ou frustração, mas uma ordem absoluta, exatidão, cálculo e regularidade”.
A partir de Copérnico, da metade do século 16 em diante, era considerado perigoso imaginar que o sol e não a terra, estava no centro do universo. “Não há perigo nenhum nisso”. Escreveu Robert Cardinal Bellarmine, o principal teólogo do vaticano no início do século 17, “e satisfaz os matemáticos. Mas, afirmar que o sol está na verdade no centro dos céus e que a terra gira rapidamente ao redor dele é perigoso, pois não só irrita os teólogos e filósofos, como ofende a santa fé, e torna falsa a sagrada escritura”.
Além disso, se a terra girasse ao redor do sol, as estrelas próximas dariam a impressão de se moverem contra o pano de fundo das estrelas mais distantes, sempre que a cada seis meses deslocássemos nossa perspectiva de um lado da órbita da terra para o outro. Não se havia descoberto nenhuma paralaxe anual desse tipo. Os copernicanos argumentavam que isso se devia ao fato de as estrelas estarem extremamente longe; talvez 1 milhão de vezes mais distantes do que a terra está do sol. Os adeptos do geocentrismo, consideravam esse argumento uma tentativa desesperada de salvar uma teoria falha.
Quando Galileu apontou seu telescópio para o céu, descobriu que júpiter tinha um pequeno séquito de luas, descrevendo órbitas ao seu redor; as mais próximas girando mais rápido do que as mais afastadas, exatamente como Copérnico tinha concluído a respeito do movimento dos planetas ao redor do sol. Observou que mercúrio e Vênus, passavam por fases como a lua (indicando que eles giravam ao redor do sol). Além disso, a lua cheia de crateras e o sol coberto de manchas, desafiavam a perfeição dos céus. Este pode ter sido o problema que preocupava Tertuliano, uns 1.300 anos antes quando pedia: “Se você tem algum tino ou decoro, pare de sondar as regiões do céu, o destino e os grandes segredos do universo”.
 
“Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas, esses vêem as obras do senhor e as suas maravilhas no profundo. Pois ele manda, e se levanta o vento tempestuoso que eleva as suas ondas. Sobem os céus, descem aos abismos, e a sua alma se derrete em angústias. Então clamam ao senhor, e ele os livra das suas dificuldades. Faz cessar a tormenta e acalmam-se as suas ondas, então se alegram, porque se aquietaram, assim os leva ao seu porto desejado” (Salmos 107, 23-30, cerca do ano 150 antes de Cristo).
 
“Vós sois de baixo, eu sou de cima, vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo”. (João 8:23).



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