terça-feira, 16 de outubro de 2012

DO TEMPO


DO TEMPO
Assim escreveu sobre o tempo o filósofo Husserl: “o que é isto que eu sei sem que ninguém me tenha perguntado, mas que, se eu quiser explicar a quem me perguntar, eu sei? A resposta é: o tempo”. Santo Agostinho em “confissões” escreveu: “se Nemo a me quaerat scio, si quaerent explicare velim nescio”.
Os egípcios mediram o tempo, babilônicos mediram o tempo, hebreus e ameríndios mediram o tempo, na idade média as areias de um milimícron das ampulhetas mediam o tempo, os relógios de engrenagens hoje medem o tempo. O tempo, este é bem conhecido, objeto de um saber imediato para todo homem que nele pensa, ainda que minimamente ele sabe o que quer dizer tempo. O tempo não é uma coisa, não é matéria para um de seus cinco sentidos, nem a primeira vista, para o senso comum.
Para Einstein o tempo era relativo, para Blaise Pascal o tempo não era um eterno silêncio e para Kant o tempo em si não era nada. Nós não fomos jogados no tempo, ele já estava aí, teatro de retornos, de uniões e de dissonâncias.
Segundo o pensador americano Lewis Munford: “o relógio não é apenas um instrumento para seguir a marcha das horas ou do tempo, é também um meio de sincronizar a marcha dos homens”; o profeta Isaías clamou a Javé e fez retroceder a sombra dez graus de tempo atrás, pelos graus que tinha declinado no relógio de sol de Acaz (2 Reis cap. XX, XI); o rei Salomão escreveu em Eclesiastes (cap. III,I-IX): “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu, há tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de colher o que se plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de edificar, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar, tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras, tempo de abraçar e tempo de afastar-se de abraçar, tempo de buscar e tempo de perder, tempo de guardar e tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de coser, tempo de estar calado e tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de guerra e tempo de paz. Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?”.
Na mitologia grega, o tempo era coordenado por Cronus, que comeu a cabeça de seu filho, temendo que este lhe tomasse o poder; “o que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo, o que não há somos nós, e a verdade está aí” (Fernando Pessoa, mensagem, pecado original, 07-12-1933). Antes de qualquer coisa, “Deus criou os céus e a terra” (Gênesis);  trata-se para Santo Agostinho de um universo visível, um “coelum coeli” (Céu do céu), para as realidades espirituais como os anjos; Anaxágoras afirmou que na origem tudo era confusamente semelhante e que surgiu o espírito(nous) que o organizou como mundo. “eis porque gritam o céu e a terra, nós existimos, é que nós fomos criados, nós não existíamos, portanto antes de ser para termos sido criados por nós mesmos” (Santo Agostinho, confissões, livros XI e XII).
Se o tempo é uma criação de Deus, não há tempo antes de Deus, ou não dependente dele, é na relação dos componentes de sua natureza, na temporalidade essencial, que ele poderá definir-se, como ele foi criado com as coisas, sem poder confundir-se com nenhuma, mais sem poder igualmente ser delas separado. No capítulo XVII de confissões, escreveu Santo Agostinho: “será que há realmente três tempos? Passado, presente e futuro? E não um único presente? Pois os outros dois tempos não existem? Ou, se eles têm existência própria e o tempo procede de algum ponto oculto, quando do futuro se torna presente ou quando, do presente recua para o segredo do passado?”. O homem caminha no tempo, mas ele caminha na finitude e na morte, e é a partir desta morte que se mede o tempo que lhe é dado viver. “mas de onde se origina o tempo? Por onde caminha e a que se dirige quando o medimos? de onde senão do futuro? por onde, senão pelo presente? Para onde, senão para o passado? portanto, à partir do que ainda não é, através do que não tem extensão (Spatium), e recaindo naquilo que já não é” (confissões, cap. XXI).
Nicolau de Cusa escreveu: “o homem é o sexto dia ou o microcosmo”; disse assim a filha do rei Lear, de Shakespeare: “nós tomaremos sobre nós o mistério das coisas, como se fôssemos espiões de Deus”; O profeta Isaías assim exordiu: “Deus é o pai da eternidade”.

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