DO TEMPO
Assim escreveu sobre o tempo o filósofo Husserl: “o
que é isto que eu sei sem que ninguém me tenha perguntado, mas que, se eu
quiser explicar a quem me perguntar, eu sei? A resposta é: o tempo”. Santo
Agostinho em “confissões” escreveu: “se Nemo a me quaerat scio, si quaerent
explicare velim nescio”.
Os egípcios mediram o
tempo, babilônicos mediram o tempo, hebreus e ameríndios mediram o tempo, na
idade média as areias de um milimícron das ampulhetas mediam o tempo, os
relógios de engrenagens hoje medem o tempo. O tempo, este é bem conhecido,
objeto de um saber imediato para todo homem que nele pensa, ainda que
minimamente ele sabe o que quer dizer tempo. O tempo não é uma coisa, não é
matéria para um de seus cinco sentidos, nem a primeira vista, para o senso
comum.
Para Einstein o tempo
era relativo, para Blaise Pascal o tempo não era um eterno silêncio e para Kant
o tempo em si não era nada. Nós não fomos jogados no tempo, ele já estava aí,
teatro de retornos, de uniões e de dissonâncias.
Segundo o pensador
americano Lewis Munford: “o relógio não é apenas um instrumento para seguir a
marcha das horas ou do tempo, é também um meio de sincronizar a marcha dos
homens”; o profeta Isaías clamou a Javé e fez retroceder a sombra dez graus de
tempo atrás, pelos graus que tinha declinado no relógio de sol de Acaz (2 Reis
cap. XX, XI); o rei Salomão escreveu em Eclesiastes (cap. III,I-IX): “tudo tem
o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu, há
tempo de nascer e tempo de morrer, tempo de plantar e tempo de colher o que se
plantou, tempo de matar e tempo de curar, tempo de derrubar e tempo de
edificar, tempo de chorar e tempo de rir, tempo de prantear e tempo de dançar,
tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntar pedras, tempo de abraçar e tempo de
afastar-se de abraçar, tempo de buscar e tempo de perder, tempo de guardar e
tempo de lançar fora, tempo de rasgar e tempo de coser, tempo de estar calado e
tempo de falar, tempo de amar e tempo de odiar, tempo de guerra e tempo de paz.
Que proveito tem o trabalhador naquilo em que trabalha?”.
Na mitologia grega, o tempo era coordenado por Cronus, que comeu a cabeça de seu filho, temendo que este lhe tomasse o poder; “o que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo, o que não há somos nós, e a verdade está aí” (Fernando Pessoa, mensagem, pecado original, 07-12-1933). Antes de qualquer coisa, “Deus criou os céus e a terra” (Gênesis); trata-se para Santo Agostinho de um universo visível, um “coelum coeli” (Céu do céu), para as realidades espirituais como os anjos; Anaxágoras afirmou que na origem tudo era confusamente semelhante e que surgiu o espírito(nous) que o organizou como mundo. “eis porque gritam o céu e a terra, nós existimos, é que nós fomos criados, nós não existíamos, portanto antes de ser para termos sido criados por nós mesmos” (Santo Agostinho, confissões, livros XI e XII).
Na mitologia grega, o tempo era coordenado por Cronus, que comeu a cabeça de seu filho, temendo que este lhe tomasse o poder; “o que há é só o mundo verdadeiro, não é nós, só o mundo, o que não há somos nós, e a verdade está aí” (Fernando Pessoa, mensagem, pecado original, 07-12-1933). Antes de qualquer coisa, “Deus criou os céus e a terra” (Gênesis); trata-se para Santo Agostinho de um universo visível, um “coelum coeli” (Céu do céu), para as realidades espirituais como os anjos; Anaxágoras afirmou que na origem tudo era confusamente semelhante e que surgiu o espírito(nous) que o organizou como mundo. “eis porque gritam o céu e a terra, nós existimos, é que nós fomos criados, nós não existíamos, portanto antes de ser para termos sido criados por nós mesmos” (Santo Agostinho, confissões, livros XI e XII).
Se o tempo é uma
criação de Deus, não há tempo antes de Deus, ou não dependente dele, é na
relação dos componentes de sua natureza, na temporalidade essencial, que ele
poderá definir-se, como ele foi criado com as coisas, sem poder confundir-se
com nenhuma, mais sem poder igualmente ser delas separado. No capítulo XVII de
confissões, escreveu Santo Agostinho: “será que há realmente três tempos?
Passado, presente e futuro? E não um único presente? Pois os outros dois tempos
não existem? Ou, se eles têm existência própria e o tempo procede de algum
ponto oculto, quando do futuro se torna presente ou quando, do presente recua
para o segredo do passado?”. O homem caminha no tempo, mas ele caminha na
finitude e na morte, e é a partir desta morte que se mede o tempo que lhe é
dado viver. “mas de onde se origina o tempo? Por onde caminha e a que se dirige
quando o medimos? de onde senão do futuro? por onde, senão pelo presente? Para
onde, senão para o passado? portanto, à partir do que ainda não é, através do
que não tem extensão (Spatium), e recaindo naquilo que já não é” (confissões,
cap. XXI).
Nicolau de Cusa
escreveu: “o homem é o sexto dia ou o microcosmo”; disse assim a filha do rei
Lear, de Shakespeare: “nós tomaremos sobre nós o mistério das coisas, como se
fôssemos espiões de Deus”; O profeta Isaías assim exordiu: “Deus é o pai da
eternidade”.
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