Até meados do século XIX, os historiadores europeus eram unânimes ao afirmarem
que os romanos da antiguidade nunca tiveram contato com o extremo oriente, e
que o comércio era feito por meio de mercadores instalados em entrepostos em
Alexandria, cidade do norte africano. Mas tal teoria fora desfeita, pois
“Sestércios”, moedas cunhadas por Maximiliano I imperador romano de 235 à 238,
foram descobertas no extremo sul da península Indo-Chinesa. Como tais moedas
romanas chegaram à extrema Ásia ninguém sabe, mas, uma interpretação histórica
errônea foi deixada de lado graças a Numismática (do grego Nomisma = moeda),
aquele que coleciona moedas.
Ser numismata não é novidade. Na renascença, séculos XIV à XVI, o interesse por
conhecer e identificar os personagens da antiguidade clássica levou alguns
estudiosos a se aplicarem ao estudo de velhas moedas. Na idade média os poetas
italianos Petrarca (1304 à 1374) e Politianus(1454 à 1494), colecionavam
moedas, muito antes deles, os imperadores romanos Trajano(98 à 117) e
Adriano(117 à 138), dedicavam-se a colecionar moedas como um simples
passatempo. O próprio Augusto (27 a.c à 14 d.c), guardava moedas para depois
oferecê-las como presente ou prêmio aos amigos e aos melhores servidores. Foi
em sua época que se tornou hábito engastar moedas antigas em colares e outras joias.
Barras de metal representaram um passo à frente, mais o uso levou à constatação
de que o metal precisava ser sempre pesado, isto é, ele deveria ser conferido
para cada transação. À medida que as peças de metal passaram a ter peso
uniforme, identificado pelos caracteres gravados, sua confecção ficou a cargo
de pessoas autorizadas pelo governo. Nasceu assim a moeda.
Mas a moeda não foi a única forma pela qual o dinheiro foi representado. Os
ameríndios, por exemplo, trocavam animais mortos, conchas marinhas eram usadas
por tribos africanas, entre os romanos o sal era usado como moeda, na América
do norte, usou-se o “wanpun”, um objeto confeccionado com tiras de couro, era
usado como moeda em transações com os brancos nos séculos XVII e XVIII. Há mais
de 2.000 anos Aristóteles afirmava que antes do uso de moedas, os homens
trocavam bens que lhes sobravam por bens que lhes faltavam. Na Melanésia
usava-se como moeda uma longa tira de fibra ornada de plumas vermelhas,
acrescidas de conchas inteiras ou talhadas, na China, antes da difusão das
moedas e mesmo após seu surgimento, no final do século IV a.c, usou-se como
moedas, objetos com formatos de enxadas e facas nas transações. No pacífico
ocidental, usou-se como moeda o “kula” e na África central usou-se o “malaki” e
o “bilaba”. Na antiguidade clássica usaram-se colares de dentes e ossos,
braceletes, plumas, pérolas, fragmentos de pedra e metal, peças de cerâmica e
restos de tecidos. Segundo o historiador Heródoto, as primeiras moedas foram
cunhadas na Lídia (na Ásia menor, século VIII a.c), transmitidas pelos Partas,
cujo império fundado entre os séculos III e II a.c, se estendeu do rio Eufrates
ao Afeganistão. Eram peças ovais feitas de eléctrum (liga natural de ouro e
prata encontrada em rios). Dessa região litorânea, o uso de rodas de metal como
dinheiro difundiu-se para o leste e para o sul, para a Pérsia, ilha de Egina,
chegando à Grécia, da Grécia para Roma e desta para a Índia.
As primeiras moedas originárias da Lídia no século VIII a.c, tinham estampas
das mais variadas, o primeiro soberano a dar às moedas um caráter oficial foi
Gigés(685-652 a.c), suas moedas eram feitas de eléctrum, nelas eram impressos,
o seu selo real. Creso(560-460 a.c) rei da Lídia, como fora Gigés, tornou-se
famoso pela sua riqueza, sua moeda era o dracma, e era cunhada em ouro, com a
estampa de um leão e um touro. As colônias gregas da Ásia menor cunhavam moedas
de 1,16 gramas, trazendo impressa a cabeça de um leão. Fidom, rei de Argos em
Peloponeso, foi o introdutor da moeda na Grécia continental, sua moeda trazia
estampada uma tartaruga, animal dedicado à deusa Afrodite. Corinto no século
VII a.c, cunhava moedas de prata pesando 7,5 gramas apresentando um pégaso. A
ilha de Tassos cunhava dracmas de prata, trazia impressa a dança de um sátiro
com uma ninfa.
Em Roma as primeiras moedas eram grandes peças de bronze, de forma circular,
tão pesadas (1500 g), que tinham de ser fundidas e não cunhadas. Eram
conhecidas como “aes grave” (bronze pesado), depois as “aes rude” (moedas de
peso determinado), substituíram as primeiras. A unidade monetária do império
romano manteve-se sempre mais estável do que a dos gregos. Mas foi imitando os
Helenos que os romanos cunharam moedas de prata, usadas no comércio com todos
os povos do Mediterrâneo. Do tempo de Carlos Magno data a lira de prata que deu
origem ao nome da moeda inglesa do latim libra. A moeda romana mais importante
era o “denárius”, que originou a palavra dinheiro. Os primeiros denarii, tinham
no anverso a efígie da deusa Roma (dea roma), símbolo do estado romano, e no
reverso a efígie dos gêmeos Castor e Pólux, heróis da mitologia grega, com uma
estrela sobre suas cabeças. A segunda moeda em importância era a Victória,
pesando a metade do Denarius em prata cunhada para transações com outros povos.
Sestertius e dupondius eram os nomes das moedas em bronze, cujo o valor era de
um quarto e um oitavo de denarius, respectivamente “aes”, era moeda de cobre.
No fim do século VII uma nova moeda de prata começou a ser cunhada na
Inglaterra e na França. Na Inglaterra era chamada Penny, e na França Denier, do
latim denarius. A mais famosa das antigas moedas de ouro era o florim,
introduzido em Florença, por volta de 1252, seguido pelo ducado, moeda
veneziana de ouro que data de 1284. Veneza adotara uma moeda de prata mais
pesada, o ducado de prata ou grosso, em 1202, e a França o Gros tournois, em
1266. Na Inglaterra surgiu o nobble de ouro de 1344 e o groat de prata de 1351.
Uma moeda de prata equivalente a uma libra chamada lira litron, foi
primeiramente cunhada em Veneza em 1472, isto deu origem à uma série completa
de moedas conhecidas como testones (do italiano testa) por reproduzirem a
cabeça dos governantes. A moeda thaler era cunhada nas ricas minas de prata de
St. Joachimsthal, na Boêmia. Do nome dessa moeda originou-se a palavra dólar.
Muitas moedas européias dos séculos XIV e XV eram feitas de uma liga de metal
(o bilion), na qual se colocava mais cobre do que prata, não tinha estabilidade
e era fácil sua falsificação. Hoje em dia as únicas moedas cunhadas em prata
são as maundy, finas peças de 1, 2, 3, 4 pennies, feitas anualmente na
Inglaterra para serem distribuídas pelo soberano no maundy Thursday
(quinta-feira santa).
“Não há homem que
aceite conselho, mas todos aceitam dinheiro, logo, dinheiro é melhor que os
conselhos” (Jonathan Swift).
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